Estamos a chegar ao fim de 2013 e as retrospectivas e revistas do ano entram-nos a toda a hora pelos olhos adentro. Enquanto umas vão até há 40 anos atrás, outras ficam-se pelo ano que agora termina.
Por isso, proponho uma variante… uma pequena viagem pelo que de menos relevante nos marcou este ano e, se não marcou, podia/devia ter marcado.
Começando pelo vocabulário: uma nova palavra foi reconhecida internacionalmente, o "selfie", que não é mais do que um foto tirada ao próprio, um auto-retrato; este tipo de foto já não é novo, mas as redes sociais tornaram-no comum, especialmente em casos em que o fotógrafo está ao lado de alguém que quer realçar, um amigo, alguém famoso, etc.
Para quem gosta de matemática, pode não vir logo à cabeça, mas 2013 foi o primeiro ano desde 1987 a não ter um único algarismo repetido. Este número é constituídos por quatro algarismos consecutivos (0, 1, 2 e 3) ainda que não estejam ordenados; a última vez que isto aconteceu foi em 1432 e a próxima vai ser em 2031.
Falando em imagem, o estereótipo de beleza feminina foi mais uma vez questionado, e principalmente o seu uso em campanhas de marketing e publicidade, quando um filme colocado no YouTube mostrou a manipulação feita em modelos recorrendo a tratamento de imagem no computador.
Quase irrelevante foi a vitória de Jamie Oliver em tribunal contra a cadeia de fast food McDonald’s, que se viu forçada a alterar a receita de vários hamburgeres do seu menu, que comprovadamente continham hidróxido de amónia, que Jamie rebaptizou de “lodo cor-de-rosa”, ou “pink slime”, substância agora tornada banida das cozinhas da cadeia de restaurantes norta-americana.
Por falar em espaços comerciais, ainda que apenas em construção, um centro comercial ganhou inesperada relevância na Turquia (no Gezi Park de Istambul) ao contrário do que desejavam Governo e promotores imobiliários locais; a população não arredou pé, defendendo com as próprias mãos e vidas uma das poucas áreas verdes da capital turca, algo que deveria ser entendido por todos como uma prova de que tudo está ao alcance das populações, haja real paixão e vontade.
Se por cá essa paixão existisse, a demissão de Paulo Portas teria sido, de facto, irrevogável (por vontade popular)… nem Primeiro-Ministro nem Presidente da República teriam força ou veleidade de aceitar o dano que foi provocado à nação com aquele acto que, afinal, resultou em promoção. Mas não, tornámo-lo todos aceitável e irrelevante; os nossos “brandos costumes” confirmam o que Miguel Torga escreveu no seu Diário em 1961: "É um fenómeno curioso: o País ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente,uma colectividade pacífica de revoltados."
Enquanto o mundo legalizava as uniões homossexuais (França, Inglaterra, Gales, Brasil, Uruguai, Nova Zelândia e até alguns estados dos EUA), a Rússia chamou a isso uma irrelevância e tratou de criar uma lei que bane e criminaliza a promoção (leia-se “informação”) da homossexualidade. Como o que é relevante por aqueles lados é decidido pelo Governo de Vladimir Putin, o habitual perdão de prisioneiros incluiu as duas cantoras da banda punk Pussy Riot — ainda que a poucos meses da que seria a sua data de libertação — e ainda o milionário Mikhail Khodorkovsky, opositor confesso de Putin e outrora o homem mais rico do País, preso em 2003 por várias fraudes e lavagem de dinheiro, num julgamento que teve um forte pendor político, na altura. Quase irrelevante, não?
Mas houve muitas outras irrelevâncias em 2013, como o auto-anunciado fim da carreira de Justin Bieber, artista de múltiplos méritos e penteados (vale a pena ver a entrevista de Zach Galifianakis – especialmente no 1m56 – nem que seja só pela abordagem a este último tema), um jovem capaz de encantar plateias repletas de teenagers e, logo de seguida, dizer que pensa que Anne Frank poderia sua fã, uma "belieber".
Por falar em frases ridículas, há quem diga que os filhos é que mandam nos pais… claro que mandam, se os pais se demitirem das responsabilidades de educação (aquelas que requerem acompanhamento); frases mais obvias e universalmente correctas, só no horóscopo [nota pessoal: esta é a minha frase polémica, para levarmos a discussão até 2014!].
Vá, 2013 teve muita coisa interessante (basta ver a selecção temática da National Geographic, a colecção tripla de fotos – parte 1 / parte 2 / parte 3 – feita pelo “The Big Picture”, fotoblogue que não dispenso, ou esta lista de imagens da Mashable), mas essas histórias do que realmente fez o mundo rodar não cabem aqui hoje, pode ser?
Venha o 2014… em relação ao 2013, já não podemos fazer (quase) nada!