Encontrei um dia, num livro comprado num alfarrabista, um postal com data dos anos 60. Era uma imagem de uma praia, com umas palavras simples, formais, a desejar boas férias e felicidades, que desconhecidos meus enviaram a outros desconhecidos meus.
Além desse postal, que guardo não sei porquê, tenho também em casa uma caixa com postais ilustrados que me foram enviados pelas festas ou pelas férias ou por motivo nenhum, por família, amigos, lojas e até bancos.
Eu próprio mandei alguns postais ilustrados na minha vida, talvez menos do que deveria, porque sempre os achei objectos intrigantes: o que é esta fusão de imagens que não são nossas, com palavras que são nossas, enviadas a alguém que queremos lembrar que não esquecemos, ou talvez lembrar para que não se esqueça de nós?
Não devo ter sido o único a quem os postais causaram perplexidade. Apesar do "kitsch" das muitas fotografias turísticas, ursos com corações e árvores de natal iluminadas que povoam o imaginário dos postais, estes mostraram-se também dados à arte, tendo alimentado o movimento de "Mail Art", de que participaram nomes como Ray Johnson, Joseph Beuys, H.R. Fricker, e outros, que criaram imagens, logos e carimbos irónicos ou obscenos para enviar ou apresentar em exposições, ou mais recentemente o projecto "Post Secret", de Frank Warren, em quem milhares de pessoas de todo o mundo enviam semanalmente postais artesanais onde relatam anonimamente os seu segredos inconfessados, mesmo que estes sejam terríveis, bizarros ou apenas banais.
Para compreender todas estas dimensões do postal, surgiu o projecto "Postais Ilustrados" da Universidade do Minho, onde vários estudiosos recolhem e tentam compreender o fascínio que os postais continuam a ter, ainda que agora sejam cada vez mais virtuais, mas que mesmo mandados por mail, MMS, Facebook ou outros, continuam a juntar palavras e imagens para mostrar que não nos esquecemos dos outros e que não queremos que eles se esqueçam de nós.