Segundo atentado em dois dias desafia Putin e o seu projecto de Sochi

Bombista suicida matou 14 pessoas que viajavam num autocarro eléctrico em Volgogrado. Presidente russo ainda não falou ao país, mas ordenou novo reforço de segurança.

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O autocarro eléctrico ficou totalmente destruído Sergei Karpov/Reuters
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“Esta série de explosões visam criar um clima de terror antes dos Jogos” de Sochi, disse à AFP o analista Pavel Felgenhauer, resumindo a suspeita que paira desde que, domingo ao início da tarde, um bombista detonou os explosivos que transportava à entrada da estação de comboio de Volgogrado, matando 17 pessoas e ferindo outras 40.

Por ordem de Putin, a segurança foi reforçada nos aeroportos e estações da Rússia – muito movimentados em vésperas do Ano Novo, a festa mais importante no país. Na manhã desta segunda-feira, um autocarro eléctrico, repleto de passageiros, explodiu no centro da cidade. O Comité de Investigações Federais confirmou que foi um novo atentado suicida – o terceiro na cidade desde 21 de Outubro, quando uma mulher matou seis pessoas num autocarro.

“Pelo segundo dia, estamos aqui a morrer. É um pesadelo”, disse à Reuters uma mulher em lágrimas junto ao autocarro, reduzido a uma carcaça esventrada. Além dos 14 mortos, 28 pessoas foram hospitalizadas, cinco das quais em estado crítico. “Estamos aterrorizados. Toda a gente saiu dos autocarros e dos eléctricos e continuou o caminho a pé”, disse outra testemunha à agência Ria Novosti.

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Putin, que ainda não falou aos russos desde os atentados, ordenou um novo reforço da segurança a nível nacional, com especial atenção em Volgogrado, e enviou à cidade o director do FSB (ex-KGB), Aleksandr Bortnikov. Dezenas de países, incluindo Portugal, condenaram o atentado antecipando-se ao pedido de solidariedade da diplomacia russa, que equiparou os atentados em Volgogrado aos que visaram os EUA ou a Síria. “Não vamos recuar e vamos continuar a luta contra este inimigo insidioso que só pode ser derrotado em conjunto”, afirmou em comunicado.

A mesma pista
Vladimir Markin, porta-voz dos investigadores, revelou que os fragmentos encontrados no autocarro indicam que a bomba era idêntica à detonada na central de comboios e admitiu que os dois engenhos “podem ter sido preparados no mesmo local”.

As autoridades voltaram a não identificar o atacante, dizendo apenas suspeitar de “um homem em cujo corpo foram recolhidos fragmentos enviados para testes genéticos”. Domingo, as suspeitas recaíram sobre uma mulher, que a imprensa disse ser oriunda do Daguestão, república vizinha da Tchetchénia, mas nesta segunda-feira foi divulgado um vídeo de segurança mostrando um homem a passar pelo detector de metais da estação segundos antes da explosão.

Mas é no Cáucaso do Norte e nos violentos jihadistas da região que as suspeitas se concentram, em especial depois de Doku Umarov, o guerrilheiro tchetcheno que se proclama emir do Cáucaso, ter desafiado os radicais a “usarem a máxima força” para impedir os Jogos de Sochi, uma competição “satânica” realizada sobre “as ossadas de muitos muçulmanos”.

A organização dos Jogos assegurou que “tudo o que podia ser feito [para proteger a competição] já foi feito” e o Comité Olímpico Internacional disse “não ter dúvidas que a Rússia estará à altura da tarefa”. Putin, que presidirá em Sochi à primeira grande competição em solo russo desde a queda da URSS, não olhou a gastos para blindar a estância do mar Negro. O trânsito estará vedado a não residentes a partir de 7 de Janeiro (um mês antes do início dos Jogos), além dos bilhetes os espectadores terão de pedir passes de acesso ao recinto, mediante a apresentação de passaporte e haverá drones a vigiar em permanência o recinto.

Cidade símbolo
“Isto é uma forma de dizer à Rússia ‘vocês podem montar toda a segurança que quiserem em redor dos Jogos. As pessoas comuns nas maiores e mais conhecidas cidades não vão estar protegidas'”, disse à AP Edward Turzanski, especialista em terrorismo do Foreign Policy Research Institute, nos EUA.

Volgogrado é um alvo mais fácil. Situada entre Moscovo (900 km a norte) e Sochi (700 km a sudoeste), é a metrópole mais próxima do Cáucaso, ao qual está ligada por várias linhas de autocarro. Volgogrado, antiga Estalinegrado, foi também palco da grande batalha em que o Exército Vermelho derrotou as tropas de Hitler, em 1943. “É o símbolo do sofrimento e da vitória na II Guerra Mundial e foi escolhida precisamente pelos terroristas por causa desse estatuto na mente dos russos”, explicou ao Washington Post Dmitri Trenin, do Carnegie Center de Moscovo.

Na imprensa pediu-se mão dura com os terroristas e um deputado do Partido Liberal (populista) sugeriu o fim da moratória à pena de morte. Mas todos os sinais indicam que o Kremlin quer tratar este assunto como um caso de polícia e não um assunto de Estado – elevar o nível de alerta terrorista a nível nacional poderia criar alarmismo em redor dos Jogos, dizem os analistas. Mas em marcha está já uma caça ao homem: a televisão Russia Today noticiou que 260 grupos de busca e 142 equipas de investigadores estão em Volgogrado, tendo revistado mais de 1500 locais em menos de um dia.  
 
 

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