Editorial: Regresso ao país das sete partidas
Somos um país das sete partidas do mundo, por desamor de uma terra onde a riqueza é distribuída por poucos. Foi assim nos anos finais da ditadura, um período de crescimento económico, durante o qual a pobreza e a guerra colonial puseram em movimento o pêndulo da saída.
Nas décadas seguintes, a emigração tornou-se sazonal e, há 20 anos, o país de emigrantes descobria-se país de imigrantes. Essa (aparente) inversão de papéis inspirou uma narrativa nova: o país que atraía não voltaria a passar pelo trauma da partida dos seus. Em 2013, 120 mil portugueses partiram em busca de oportunidades que o país lhes negou.
O trauma regressou, mas com contornos diferentes. O ajustamento não está a ser apenas financeiro: obriga dezenas de milhares a partir. Entre estes, muitos dos melhores, dos mais qualificados, dos que poderiam ser a base da economia mais dinâmica e competitiva que, dizem, está do outro lado do dilúvio da austeridade.
Numa sociedade global é normal que as pessoas se movimentem. E Portugal deveria estar a exportar e a importar cérebros. Esse movimento teria tudo para ser virtuoso, se Portugal mantivesse a sua capacidade de atrair inteligência. Isso implicaria, em primeiro lugar, que se continuasse a política de investimento na ciência que este Governo descartou. Só que o país do corte-se onde se puder levou necessariamente ao país do salve-se quem puder. O próprio primeiro-ministro o disse, no dia em que fez o elogio público da emigração e confessou tacitamente que o país já não chegava para todos.
No regresso ao país das sete partidas do mundo, Portugal corre o risco de ser apenas a terra dos que ficam por falta de alternativa. Portugal pagará caro a leviandade e a falta de visão com que empurrou para a porta de saída uma geração mais bem qualificada do que qualquer outra. Ao excluí-la, é o futuro comum que estamos a hipotecar.