Karzai à procura de um legado
Presidente afegão não se poderá recandidatar, mas deverá usar eleições para garantir um lugar próximo do poder.
Figura dominante dos últimos 12 anos no Afeganistão, Karzai lidera o bloco político mais importante do país, assente numa rede clientelar que “se estende do palácio em Cabul aos ministérios, às províncias, distritos, aos responsáveis da justiça, dos negócios e das tribos”, adianta um relatório do Council on Foreign Relations.
O analista paquistanês Ahmed Rashid prevê que o Presidente escolherá, por isso, um candidato entre os 11 que se perfilam na corrida e acredita que a decisão será tomada em função “daquele que melhor o proteger a ele e à sua família alargada (em especial de acusações de corrupção)”. Mas há quem admita que está interessado em manter-se na sombra do poder, conseguindo um lugar de conselheiro.
Mas Karzai, que esteve com os mujahedin na luta contra a URSS e se aproximou depois à Aliança do Norte contra os taliban, está também preocupado com o seu legado, com as suas credenciais de nacionalista. A acusação de que é uma marioneta dos americanos, mil vezes repetida pelos taliban, é a que mais o ofende.
Por causa dela, critica Washington na mesma proporção em que depende da sua ajuda. Devido a ela, exigiu novas contrapartidas para assinar um acordo bilateral de segurança. “A minha responsabilidade é garantir que servirá os interesses do Afeganistão”, disse numa entrevista recente ao jornal Le Monde, em que acusou os EUA de “agirem como uma potência colonial”.