TAP deixa de fretar avião para Bissau no fim do ano
Empresa não diz quantos passageiros há com bilhete comprado para depois de dia 31.
Na sequência do episódio ocorrido a 10 de Dezembro em que foi obrigada, pelas autoridades guineenses, a transportar 74 passageiros sírios com passaportes falsos, a TAP cancelou os voos entre Lisboa e Bissau. Mas como havia pouco mais de mil passageiros com viagens marcadas quando as ligações aéreas foram interrompidas, e dada a altura do ano, a companhia fretou um avião à Senegal Airlines para fazer o percurso entre Dakar e a Guiné. Até ao Senegal os voos têm sido assegurados na mesma pela TAP, sendo aí feito o transbordo para o avião fretado.
"O contrato com a companhia senegalesa termina com a realização do voo que parte de Lisboa na próxima 2ª feira, 30 de Dezembro, regressando na manhã de 3ª, motivo pelo qual a TAP deixa de realizar os voos Lisboa/Dakar/Bissau/Dakar/Lisboa que vinham a ser efectuados", refere um comunicado da transportadora aérea, sem, porém, dizer quantas pessoas tinham bilhete comprado para lá do final do ano.
A TAP limita-se a referir que os passageiros com reservas para depois dessa data "serão contactados oportunamente" pela companhia. A transportadora nunca divulgou até hoje quanto lhe custou fretar o avião à companhia senegalesa em período natalício, embora o seu presidente, Fernando Pinto, tenha admitido que se trata de um "custo pesado" para a empresa.
"A realização, no futuro, de voos da TAP entre Lisboa e Bissau será reavaliada quando existirem garantias que permitam a realização de voos em condições normais de segurança", termina o comunicado da TAP.
Tal como o PÚBLICO avançou em meados de Dezembro e concluiu recentemente a comissão de inquérito, foi António Suka Ntchama, ministro do Interior, que deu directamente a ordem, por telefone, ao chefe de escala da companhia de aviação nacional para que embarcassem 74 sírios com passaportes falsos. Ntchama colocou o lugar à disposição ainda antes de serem conhecidos os resultados do inquérito.
Entretanto, a agência noticiosa Portuguese News Network dá conta de que os magistrados do Ministério Público de Bissau ordenaram já a detenção do ministro, ordem que o director nacional da Polícia Judiciária não acatou, por não querer aumentar a situação de instabilidade no país. O advogado de defesa do governante disse à mesma agência não compreender a "trapalhada" feita pelos magistrados, tendo acrescentado que o máximo que poderiam ter feito era aplicar prisão domiciliária ao acusado - mas que esse decisão devia ter sido comunicada por despacho antes de Suka Ntchama abandonar a delegacia do Ministério Público, onde foi ouvido na segunda-feira durante seis horas.
Na sequência do incidente com os sírios o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné decidiu igualmente colocar o seu lugar à disposição, em protesto contra o que considera ser um escândalo diplomático entre os dois países. O Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, disse esta quinta-feira que aguarda pela decisão do primeiro-ministro para tomar uma posição sobre os dois pedidos de demissão: "O Governo é dirigido por um primeiro-ministro e consequentemente será ele a enviar ao Presidente as propostas de substituição ou não dos ministros demissionários. Eu, da minha parte, cumprirei as minhas obrigações desde que sejam propostas concretas do Governo".
O presidente da Associação dos Portugueses na Guiné-Bissau, Bacar Camará, diz que a comunidade está "muito preocupada" com a decisão da TAP de suspender voos para Bissau e pede às autoridades de Lisboa que tenha em consideração "o sofrimento de mais de quatro mil portugueses" que vivem e trabalham no território guineense."Sentimo-nos mais seguros em viajar na TAP tanto para vir para a Guiné como para ir para Lisboa", frisa Bacar Camará, que apela às autoridades portuguesas que ponderem a decisão de suspender os voos.
Se a decisão for para frente, observa, "muita gente será afectada", a começar pela Escola Portuguesa de Bissau, cujos materiais didácticos são provenientes de Portugal - sem contar com os medicamentos vendidos nas farmácias."Todos nós, elementos da comunidade portuguesa aqui residente, só confiamos nos medicamentos fabricados em Portugal. No outro dia fui a uma farmácia e tive que recusar uns medicamentos fabricados na Nigéria ou na Índia", conta o presidente da Associação de Portugueses na Guiné-Bissau, acrescentando que o fim definitivo das ligações aéreas Bissau-Lisboa poderá causar o "pânico geral". com Lusa