Segurança alimentar em época natalícia
É que Natal (também) é “estar junto de familiares e amigos e partilhar momentos de longas e agradáveis horas em torno da... mesa!”. E não são só doces e gorduras em excesso. As “intoxicações” alimentares também aumentam nesta época! Diarreias, vómitos, pequenas febres, sobretudo nas crianças – situações muitas vezes bem desagradáveis – são manifestações caraterísticas das “intoxicações” alimentares que podem surgir quando microrganismos patogénicos (bactérias, vírus ou parasitas) entram no nosso organismo através dos alimentos que ingerimos.
Mas por que aumentam em época natalícia? Vejamos o excerto do excelente livro de António Mota, Sonhos de Natal, onde podemos encontrar algumas explicações:
“Nessa noite, que demorava tanto a chegar, a nossa casa iria encher-se de gente. (...). Quando entrei na cozinha, minha avó enfeitava com canela grandes travessas de aletria. Minha mãe, com o rosto muito vermelho, transpirada, fritava as primeiras rabanadas. Em cima da mesa estava um monte de pencas repolhudas, e no chão um balde cheio com as maiores batatas criadas no nosso quintal.”
Cozinhar para um grande número de pessoas em casa não é fácil, não cabe tudo no frigorífico e, num ambiente de alguma confusão e stress, algumas regras de higiene podem ser esquecidas. Muitos alimentos têm que ser cozinhados e mantidos várias horas à temperatura ambiente antes de serem consumidos. Durante este período, algumas bactérias podem crescer. Os doces com ovos crus ou pouco cozinhados fazem parte das iguarias de Natal. Os ovos podem conter salmonelas, bactérias que causam infecções intestinais.
Se é verdade que as “intoxicações” são frequentes na época natalícia, não é menos verdade que as podemos prevenir se seguirmos quatro regras muito simples:
Lavar - remover as bactérias presentes em alimentos ou que possam, por contacto, chegar até eles.
– Lavar as mãos com frequência, de preferência com água quente e sabão, antes e depois de manusear alimentos, principalmente crus, sempre antes de comer;
– Lavar e secar com papel de cozinha os frutos antes de os cortar. Lavar bem as saladas em água corrente;
– Lavar bem todos os utensílios e superfícies em contacto com alimentos.
Separar – evitar que alimentos, provavelmente já contaminados com bactérias, mas que vão ser cozinhados, as possam passar para alimentos prontos a comer.
– Manter os alimentos crus, principalmente carnes, peixes e mariscos, bem separados dos alimentos prontos a comer;
– Nunca utilizar os mesmos utensílios (por exemplo, talheres, pratos e travessas) para alimentos crus e para alimentos cozinhados ou quaisquer outros alimentos prontos a comer, por exemplo, os frutos e os legumes.
Cozinhar bem – a maior parte das bactérias perigosas é destruída pelas temperaturas a que cozinhamos os alimentos.
– Qualquer que seja o tipo de carne, deve ser sempre “bem passada”. Tenha particular atenção com o peru, a ave do Natal, cozinhe o recheio e a ave separadamente; o peru deve ser assado durante várias horas para que o seu interior fique bem cozinhado (cerca de cinco horas para um peru de cinco quilos);
– Evite os doces preparados com ovos crus ou com produtos à base de ovos crus ou pouco cozinhados. Sabia que os ovos não fazem parte da receita da aletria tradicional? As crianças adoram rapar as taças onde se fizeram os bolos – esta gulodice está terminantemente proibida!
Refrigerar – as bactérias param o seu processo de crescimento no frigorífico.
– Não deixe à temperatura ambiente por mais do que duas horas os alimentos depois de cozinhados, os frutos cortados, os doces de colher e não se esqueça de guardar no frigorífico a couve, o bacalhau e as batatas que sobraram da consoada para preparar a deliciosa Roupa Velha no dia de Natal!
Desejo a todos um Santo (e seguro) Natal!
Docente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto