Mais de 600 mortos e 159 mil deslocados na República Centro-Africana
Ministro francês da Defesa diz que o país está “à deriva” e alertou para “risco de anarquia”
Muitos dos que fugiram estão em condições absolutamente precárias, como as quase 110 mil pessoas em campos sem condições na capital Bangui, incluindo 38 mil pessoas no aeroporto da cidade onde não têm nem casas de banho nem abrigo. Mas o aeroporto representa segurança: é a base das forças militares francesas deslocadas no país e assim quem lá está sente-se a salvo das milícias cristãs ou muçulmanas.
Há ainda uma grande concentração de deslocados em Bossangoa, onde também está destacado o exército francês. “Espontaneamente e por vagas, 40 mil cristãos de Bossangoa e das aldeias em redor foram-se juntando à volta do arcebispado da cidade, em apenas quatro hectares”, conta a ONG Acção contra a Fome. “Noutro lado da cidade, as famílias muçulmanas estão a ir, desde há seis dias, para a escola Liberdade.”
Os Médicos Sem Fronteiras também falam das condições na missão católica de Bossangoa: 300 pessoas refugiadas, com dezenas de feridos na violência recente.
Em visita à capital na manhã desta sexta-feira, o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, fez ligação entre a crise de segurança na capital com o “início de uma crise humanitária”.
Os Médicos Sem Fronteiras dizem que esta crise exige uma mudança “radical e urgente” na resposta humanitária da ONU, pedindo mais meios e recursos e lamentando que só agora as Nações Unidas tenham decidido esta mobilização quando a crise começou já há muito mais tempo. “Já deveria ter sido feito muito nos últimos meses.”
O ministro francês diz que o país está “à deriva” e alertou para “risco de anarquia”. Esta situação pode “desestabilizar toda a região e atrair grupos criminosos e terroristas”.
Depois da morte de dois soldados que tentavam desarmar milicianos, a França diz que a maioria das armas dos grupos da capital já foi retirada e começa a levar a cabo uma operação semelhante em Bossangoa.
“Não podemos voltar a casa”, disse Alacide Bienvenu, um dos refugiados do aeroporto, à Reuters. Sentado num checkpoint junto a um rapaz com um machete nas mãos, concluiu: “Só saímos quando os franceses tiverem acabado o seu trabalho. Até lá, continuaremos aqui.”