OCDE defende alunos de Xangai que conquistaram os melhores resultados no PISA
A China não participa como país mas com três regiões económicas: Xangai, Hong Kong e Macau.
A revista norte-americana Time disse de imediato que os chineses deviam estar a fazer batota. Afinal, participam há pouco tempo e obtiveram os melhores resultados nas três áreas avaliadas. Estes não são os únicos asiáticos a saírem-se bem, os alunos de outros países daquele continente ficam bem posicionados. Nesta terça-feira, num artigo publicado no site de educação da OCDE, Andreas Schleicher, responsável e conselheiro do secretário-geral daquela organização para os temas de política de educação, vem a público defender o trabalho feito.
“Sempre que um norte-americano ou um europeu ganham uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, aclamamo-lo como um herói. Quando se trata de um chinês, pensamos de imediato que houve doping ou, para não exagerarmos, pensamos que aquela medalha se deve à prática de um treino desumano”. É assim que Schleicher começa o seu artigo para explicar, numa resposta directa à Time – “que nem sequer se deu ao trabalho de ler o relatório”, acusa –, que não é possível fazer batota no PISA.
"Outros", o responsável não diz quais, argumentaram que nos testes feitos em Xangai não entravam os alunos de origem rural porque estes não tinham acesso às escolas da cidade. “Mas tal como muitas outras coisas na China, isso mudou” e, tal como está descrito no estudo esses alunos contam como nos outros países que participaram no estudo.
Schleicher reconhece que, como acontece noutras economias emergentes, Xangai está ainda a construir o seu sistema educativo e que nem todos os alunos de 15 anos chegam ao ensino secundário, daí que o estudo de 2012 cubra apenas 79% dos estudantes. Mas “até os Estados Unidos”, o país onde mais alunos, há mais tempo, chegam ao ensino secundário, não chega aos 90%, informa.
As comparações internacionais não são “fáceis nem são perfeitas”. Contudo, a OCDE procura que os resultados sejam robustos e comparáveis em termos internacionais. Portanto, as provas foram desenhadas e os resultados validados por especialistas de todo o mundo.
Trabalho árduo
O responsável lamenta ainda que os críticos digam que os alunos de Xangai sejam bons em tarefas que são fáceis de ensinar, de aprender e de serem testadas. Ora, os testes provam o contrário. Apenas 2% dos norte-americanos e 3% dos europeus conseguem fazer as tarefas matemáticas de nível 6 (numa escala de 1 a 6), demonstrando que conseguem conceptualizar, investigar e aplicar conhecimentos a novos contextos. No caso de Xangai são mais de 30% os estudantes que o conseguem. “Os educadores [naquela região] compreenderam que a economia mundial vai recompensar excelência e já não valoriza as pessoas pelo que elas sabem mas pelo que conseguem fazer com o que sabem”, escreve Schleicher.
O PISA não se limita a testar os alunos mas faz-lhes perguntas e questiona-os sobre o que consideram que contribui para o seu sucesso. Por exemplo, mais de três quartos dos estudantes franceses com resultados medianos nas provas dizem que a matéria é difícil; dois terços queixam-se que os professores não os motivam; e metade responde que os docentes não explicam ou que eles, quando fizeram as provas, não tiveram sorte. “Os resultados são muito diferentes em Xangai”, diz Schleicher. Os estudantes daquela região declaram que se esforçam bastante e que confiam nos seus professores para os ajudar a ser bem sucedidos. “Isto diz-nos muito da educação escolar”.
Quais são os países que ficam melhor no retrato do PISA, aqueles que acreditam que o sucesso é resultado de muito trabalho ou os que estão confiantes na inteligência dos seus alunos? Os primeiros, responde Schleicher.
O responsável lembra que se Xangai e Singapura subiram do patamar “bom” para o “excelente”, a maioria dos países e regiões económicas também fez um caminho de subida – nos 65 avaliados, 45 melhoraram em pelo menos uma das três áreas avaliadas. Tal aconteceu com o Brasil, a Turquia, o México ou a Tunísia que na avaliação anterior estavam no fundo da lista; com Portugal, Itália e Rússia que se aproximaram da média da OCDE; e com a Alemanha e a Polónia que estavam na média e subiram. “Estes países não mudaram a sua cultura ou a composição da sua população, nem despediram os seus professores. Eles mudaram as suas práticas e políticas educativas”, conclui.
Os alunos portugueses colocaram o país no 23.º lugar do ranking da OCDE, com uma média de 487 pontos. A média da OCDE é 494 pontos. Portugal está a sete pontos de distância. Em 2009, era 26.º, com 487 pontos. Mas estava mais distante da média internacional (nove pontos de diferença).