Oposição tailandesa quer um conselho do povo, em vez de eleições antecipadas

Primeira-ministra dissolveu o Parlamento, mas sabe que o seu partido vencerá em Fevereiro.

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Oposição não aceita eleições antecipadas PORNCHAI KITTIWONGSAKUL/AFP

Há duas semanas que há protestos antigoverno em Banguecoque. Os manifestantes exigem a demissão da primeira-ministra, Yingluck Shinawatra, que a oposição diz não passar de uma marioneta do irmão, Thaksin Shinawatra, que já chefiou o governo e que participa, a partir do exílio em Londres, nas reuniões ministeriais através de videoconferência.

Os irmãos Shinawatra pertencem ao partido Pheu Thai, que com esta denominação ou outra (foi sendo refundado) venceu as últimas cinco legislativas. É o partido mais popular da Tailândia, com a sua maior base de apoio no mundo rural, onde o programa populista é apreciado. Só perde nas grandes cidades, onde a maior implantação é do Partido Democrático (oposição), que boicotou as eleições de 2006 que provocaram o impasse que levou à queda de Thaksin Shinawatra e que se prevê boicote as próximas eleições, se se realizarem nos termos anunciados pela primeira-ministra.

O país está politicamente dividido entre a massa rural (norte e noroeste, a maioria da população) e a elite de Banguecoque que considera o Pheu Thai uma ameaça ao sistema democrático e à monarquia. Em 2010, estas divisões profundas fizeram os dois grupos entrar em conflito nas ruas da capital. De um lado estiveram os "camisas vermelhas", fiéis a Thaksin, do outro os "camisas amarelas" (monárquicos). Os grupos ocuparam o centro da capital durante dois meses e o resultado foram 90 mortos e 1900 feridos; a insurreição terminou com a intervenção do Exército, no ano seguinte houve eleições e o Pheu Thai voltou a conseguir a maioria no Parlamento e Yingluck Shinawatra tornou-se primeira-ministra.

Yingluck Shinawatra anunciou a dissolução do Parlamento depois de, no domingo, todos os deputados da oposição se terem demitido. Um dos primeiros a demitir-se foi Suthep Thaugsuban, que abandonou o Parlamento e saiu do partido para dirigir os protestos nas ruas. A oposição quer que o sistema democrático tailandês seja repensado e que passe a ter novas regras. Para contornarem as eleições que dariam nova maioria ao Pheu Thai, defendem a criação de um conselho do povo que substitua o Parlamento – não disseram, porém, quem serão os membros deste.

O braço-de-ferro entre a primeira-ministra e a oposição dura há duas semanas e não parece ter fim à vista. Os manifestantes pediram a intervenção dos militares, mas por enquanto o Exército mantém-se à margem do conflito. Nem os soldados nem a polícia avançaram contra os manifestantes que, diariamente, vão ocupando pacificamente edifícios governamentais.

A cólera dos manifestantes de Banguecoque começou devido a um projecto de lei sobre amnistias que, a ser aprovado, permitiria que Thaksin Shinawatra (acusado na Tailândia de uma série de crimes de corrupção e má gestão financeira; foi julgado à revelia) regressasse ao seu país e não cumprisse a pena a que foi condenado. A oposição considerou que o projecto de lei se destina não só a fazê-lo regressar à Tailândia, mas também ao poder. 
 
 
 
 

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