Paolo Sorrentino foi o vencedor e A Gaiola Dourada o preferido do público nos Prémios do Cinema Europeu

Almodóvar foi homenageado e criticou duramente o "governo surdo e insensível" de Espanha, "hooligans contra a cultura"

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Sorrentino recebeu o prémio sábado à noite em Berlim BRITTA PEDERSEN/afp

No início da cerimónia, o grande favorito era The Broken Circle Breakdown, do belga Felix van Groeningen, nomeado para cinco categorias. Acabaria, porém, por ver apenas premiada enquanto melhor actriz a sua protagonista, Veerle Baetens, que tinha como concorrentes nomes firmados internacionalmente como Keira Knightley, Naomi Watts ou Barbara Sukowa.

O melodrama que conta a história de um casal apaixonado pela música bluegrass obrigado a lidar com a grave doença da filha foi ultrapassado pela viagem de Paolo Sorrentino por Roma. Um Sorrentino desencantado e sob o signo de Fellini – a inspiração óbvia para este filme que acompanha as deambulações de um jornalista veterano pela cidade e pelos meandros da sua alta sociedade é La Dolce Vita ou Roma. La Grande Belleza venceu nas categorias de Filme do Ano, Melhor Realizador, Melhor Actor (Toni Servillo) e Montagem (Cristiano Travaglioli). Com Sorrentino ausente em Marraquexe, onde integra o júri do festival de cinema da cidade marroquina, coube a Toni Servillo, que o realizador já dirigira em Il Divo, receber o prémio em seu nome. La Grande Belleza tem estreia portuguesa marcada para 20 de Fevereiro.

 

Quanto a Gaiola Dourada, o filme sensação em Portugal em 2013, foi reconhecido pelo público, continuando um trajecto de aceitação popular que é demonstrado pelo sucesso nas salas francesas e portuguesas. Desde a sua estreia, a 1 de Agosto, teve 754 mil espectadores em Portugal e uma receita bruta de 3,8 milhões de euros. É o filme mais visto do ano em Portugal.



 

Na noite em que Catherine Deneuve, “a rainha do cinema europeu”, como a classificou Wim Wenders, foi distinguida pela sua carreira, Almodóvar não teve papas na língua. A noite começara com a apresentadora, a comediante alemã Anke Engelke, a fazer humor com a crise. “Vejo que a crise obrigou a Espanha a fazer filmes mudos a preto e branco”, ironizou em referência a Blancanieves, de Pablo Berger, que sairia da noite com o prémio de melhor Guarda-Roupa. Almodóvar não recorreu ao humor.

Recebido em palco por actores como Rossy de Palma, Paz Vega, Javier Cámara, Blanca Suárez, Elena Anaya ou Raúl Arévalo, Almodóvar viu-os primeiro cantar I’m so excited, das Pointer Sisters, uma das canções interpretadas no seu último filme, Amantes Passageiros. Depois, elogiou o irmão Agustin, seu produtor, e recordou actores emblemáticos no seu percurso, como António Banderas e Carmen Maura. Seguiu-se a homenagem à mãe: “Devo muito à educação que recebi através das conversas que escutei entre ela e as suas amigas”, cita o El País.

Tudo isto aconteceu um dia depois de afirmar que lhe custa “admitir” que “o futuro de Espanha venha a estar exclusivamente nas mãos dos filhos dos ricos”; de alertar que “desde os anos 1950 não ouvia falar de fome [no país]” e de manifestar o desejo de que Angela Merkel estivesse presente na cerimónia de entrega dos prémios para lhe explicar que se “todos somos Europa, torna-se evidente que o mesmo não vale para todos” - “as medidas económicas que servem para a Alemanha” são “terroríficas” no caso espanhol (“ela é uma personagem de Bergman, filha de luteranos e educada no RDA”, enquanto ele é “uma das gordas de Fellini”). Almodóvar não teve Merkel perante si, como desejava, mas isso, naturalmente, não o conteve.

Classificou 2013 como o “pior ano” para a indústria cinematográfica espanhola, diagnóstico óbvio perante as declarações da véspera, que fazem eco com as reclamações do meio cinematográfico em Portugal (“a incerteza absoluta” em que vive o cinema, “a política contra a cultura” do executivo espanhol), e terminou o seu discurso, alargando o âmbito das declarações do meio cultural para o país como um todo, apelando à “resistência dos cidadãos que são vítimas deste Governo”.

A gala dos Prémios da Academia Europeia de Cinema, criada em 1989 como contraponto aos Óscares de Hollywood por um conjunto de realizadores onde se destacava o seu hoje presidente, Wim Wenders, premiou o jovem alemão Jan Ole Gerster (o seu Oh Boy recebeu o prémio Descoberta Europeia) e distinguiu o filme sobre esquadrões da morte indonésios, The Act of Killing, de Joshua Oppenheimer, como melhor documentário. O prémio de Melhor Actriz foi para a belga Veerle Baetens, por Alabama Monroe. Já A Vida de Adèle, de Abdellatif Kechiche, actualmente em exibição em Portugal e Palma de Ouro em Cannes, saiu da cerimónia de mãos vazias (estava nomeado para Melhor Filme e Melhor Realizador).
 
 
 
 
 
 
 

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