Polícia alemã desenvolve aplicação para identificar música neonazi
A aplicação, tipo Shazam, que permite identificação rápida de música, pode ser ajuda no combate à glorificação do nazismo.
A polícia regional do estado do Leste alemão – um dos dois estados federados em que o partido de extrema-direita NPD tem deputados no parlamento – sublinha a vantagem de poder "poupar recursos e permitir identificações muito rápidas" de algumas músicas. No ano passado, 79 temas com letras que glorificam o nazismo ou racistas foram incluídos numa lista de um organismo de supervisão de media prejudiciais a menores (e que têm restrições à sua venda, e não podem ser acessíveis a menores de 18 anos), diz a revista Der Spiegel. A lista tem um total de 1090 músicas, diz o diário britânico The Guardian.
A polícia usaria a aplicação para intervir rapidamente se esta identificasse alguma destas músicas em concertos ou manifestações de extrema-direita, e poderia ainda mais facilmente detectar a sua emissão em rádios online.
Os temas neonazis são em geral de géneros mais pesados, como rock ou heavy metal, mas há cada vez mais variedade de género musical. "Temos encontrado de quase tudo, excepto bandas de swing de extrema-direita", brinca o especialista em radicalismo de direita Bernd Wagner ao Guardian.
E, tal como evitam dizer "Heil Hitler", codificando-o num "88" (H é a oitava letra do alfabeto), os neonazis estão também a evitar as músicas no índex, começando a usar mais canções folk de cantautores nacionalistas ou temas punk com mensagem anti-sistema mais gerais.
Vigilância acústica?
Representantes dos estados federados estão esta semana a discutir o uso da aplicação, mas antes é preciso que advogados analisem se a identificação automática de música num local público poderia constituir vigilância acústica.
Esta discussão ocorre quando o Bundesrat (Conselho das Regiões, que representa os 16 estados federados) começou um processo para a ilegalização do Partido Nacional Democrata (NPD), acusando-o de ligação com a ideologia nazi e de pretender destruir o sistema democrático alemão.
A Alemanha começou a ver com outros olhos a ameaça neonazi depois da revelação-choque, em 2011, de que uma série de assassínios de imigrantes, na maioria turcos, tinha sido obra de um trio neonazi, do qual apenas sobreviveu um elemento (Beate Zschäpe, actualmente a ser julgada). O facto de a polícia nunca ter desconfiado de uma motivação de extrema-direita (os crimes foram descobertos por mero acaso numa tentativa falhada de assalto a um banco dos dois elementos que se suicidaram de seguida) levou a um questionar da acção das autoridades, que decidiram levar a cabo uma reavaliação de casos entre 1990 e 2011.
Segundo o Neue Osnabrücker Zeitung, a polícia reanalisou centenas de casos, e suspeita agora de possíveis motivações racistas em 746 mortes – os números oficiais do Governo tinham apontado apenas 60 vítimas de crimes de extrema-direita.
Na Alemanha, há uma série de organismos, estatais ou privados, que tentam agir para prevenir o recrutamento de novos neonazis ou ainda ajudar a sair arrependidos que já tenham entrado no movimento. Também aqui há acções originais, como a distribuição de t-shirts com motivos aparentemente de extrema-direita, mas em que estes desaparecem após a primeira lavagem para aparecer uma mensagem de incentivo à saída da ideologia neonazi.