Estreia tímida dos CTT em bolsa dá ganho de 2,1 milhões aos investidores
Acções fecharam a subir 0,02 euros face ao preço fixado pelo Governo, mas caíram 6,1% em relação ao valor de abertura. A maioria dos pequenos investidores ganhou apenas dez euros.
A expectativa era elevada, mais até pelo facto de a estreia dos correios ter acabado com o jejum de cinco anos da bolsa, que não assistia a uma operação do género desde a EDP Renováveis, em 2008. E, na abertura da sessão, uma subida de 6,9% face ao preço definido pelo executivo alimentou essa expectativa. No entanto, os títulos foram caindo ao longo da sessão, tendo fechado a valer 5,54 euros, num dia em que o PSI encerrou a perder 0,84%.
Apesar de este valor representar uma subida de apenas 0,4% face ao preço de venda das acções, permitiu um ganho de 2,1 milhões de euros aos investidores que aplicaram dinheiro na privatização dos CTT. Um encaixe que foi arrecadado, em grande parte, pelos grandes investidores, já que estes adquiriram 56% do capital dos correios. Já para o público em geral, que ficou com 12,5% da empresa e teve, na maioria dos casos, acesso a um número entre 100 e 500 acções, o ganho situou-se apenas entre dois e dez euros na estreia de ontem.
Num encontro com jornalistas, depois do fecho da bolsa, o presidente dos CTT não quis alongar-se nos comentários sobre a evolução da cotação, afirmando apenas que o preço fixado pelo Governo, que situou no máximo do intervalo que tinha sido estabelecido para a venda (entre 4,10 e 5,52 euros), “alinha com o que o mercado entendeu” na estreia da empresa. As próximas sessões vão ser determinantes para se avaliar se o preço foi demasiado alto, anulando a possibilidade de uma maior valorização no mercado de capitais.
Francisco Lacerda preferiu destacar o “elevado volume de transacções” registado ontem, já que mudaram de mãos quase 40 milhões de acções, o que corresponde a mais de 25% do capital dos correios. Só nos primeiros dez minutos da sessão foram trocados mais de 16 milhões de títulos. O responsável afirmou que esta tendência “reforça a convicção de houve e há um interesse importante” pela empresa.
Com a intensa negociação de quinta-feira, o retrato accionista dos CTT deverá ter-se alterado face aos dados que tinham sido apresentados na quarta-feira, dia de apuramento dos resultados da oferta pública de venda. Nessa altura, 43,3% do capital dos correios tinha sido alocado a estrangeiros, e uma participação superior a 15% dizia respeito a investidores britânicos. Os portugueses tinham ficado com 56,7% da empresa, embora a posição estivesse repartida por mais de 25 mil accionistas e uma grande fatia (30%) dissesse respeito às acções que o Estado manterá sob controlo, pelo menos no médio prazo.
Os 5,54 euros com que fecharam a negociar os títulos dos CTT elevaram a capitalização bolsista da empresa para 831 milhões de euros, o que a mantém nos últimos lugares do ranking do PSI20 neste indicador. Os correios ficam na 17.ª posição, apenas acima da Altri, Banif, Sonae Indústria e Cofina, tendo em conta apenas as acções das cotadas que estão admitidas em bolsa. Apesar de se terem estreado quinta-feira em bolsa, os CTT não entram para já no maior índice bolsista nacional. Só na próxima revisão trimestral, que ocorrerá em Março, é que essa possibilidade poderá concretizar-se.
No encontro, o presidente executivo dos CTT também não quis fazer comentários sobre a sua continuidade na empresa. Questionado sobre o facto de o ministro da Economia, António Pires de Lima, ter confirmado que o Governo pretende mantê-lo no cargo, Francisco Lacerda respondeu que “isso é um assunto que se colocará após a assembleia geral” de accionistas, que ocorrerá até 28 de Fevereiro. “Não faz sentido manifestar-me publicamente”, acrescentou.
Em relação ao banco postal, que recebeu luz verde preliminar na semana passada (quando ainda decorria a oferta pública de venda), o responsável, que assumiu a presidência dos correios no Verão do ano passado, disse apenas que “a decisão [de avançar com o projecto] será tomada durante 2014 e não antes de o novo conselho de administração estar em funções”. Disse ainda que “não é claro que haja uma vantagem em associar um operador [do sector postal] aos CTT”, explicando que, quando se deu a escolha entre a venda directa e a dispersão em bolsa, não houve nenhum parceiro de actividade que tenha subido ao palco. “Se houvesse um operador postal interessado, ter-se-ia sabido ao longo do processo”. A 10 de Outubro, o Governo acabaria por decidir vender 70% do capital dos correios no mercado de capitais, encaixando agora 580 milhões de euros.