Machos louva-a-deus ingénuos atacados por fêmeas canibais
Machos que não estão habituados a comportamentos de canibalismo sexual não adoptam medidas de defesa quando tentam aproximar-se de fêmeas de outra espécie que são canibais.
Os motivos que levam ao canibalismo ainda não são bem conhecidos e poderão ser diferentes consoante a espécie, ou consoante o próprio animal, mas é sempre a fêmea que come o macho, normalmente quando ele se aproxima para o acasalamento. As fêmeas podem comer o macho porque estão esfomeadas, porque o confundem com uma presa, porque são predadoras agressivas ou simplesmente porque determinado macho não lhes interessa.
Para evitarem serem comidos, pelo menos antes de consumarem a cópula, os machos, em geral, têm adoptado várias estratégias, aproximando-se da fêmea cautelosamente ou aproveitando quando ela está distraída a alimentar-se. Para tentarem passar despercebidos, ajuda serem normalmente mais pequenos que elas.
Alguns estudos defendem que enquanto a fêmea louva-a-deus come a cabeça do macho durante o acasalamento, o abdómen do macho mantém a capacidade de introduzir o esperma dentro da fêmea.
Os estudos desenvolvidos em laboratório, pela equipa liderada por Gregory Holwell, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, têm mostrado que os machos louva-a-deus nativos (Orthodera novaezealandiae) se sentem mais atraídos pelas fêmeas da espécie invasora (Miomantis caffra) do que pelas fêmeas da sua própria espécie. As feromonas sexuais entre as duas espécies poderão apresentar algumas semelhanças, mas as da espécie invasora parecem ser mais eficazes na conquista dos machos.
Numa experiência, que durou 16 horas, e juntou fêmeas e machos de Miomantis caffra e machos de Orthodera novaezealandiae, verificou-se que as fêmeas mataram e comeram 39,1% dos machos da sua espécie, e 68,8% dos machos da outra espécie. “Este estudo demonstra um novo mecanismo de impacto de uma espécie invasora sobre uma espécie nativa: atracção sexual interespécies leva à predação dos machos em contexto de canibalismo sexual”, referem os investigadores.
Na espécie nativa da Nova Zelândia, ao contrário de grande parte das cerca de 2000 espécies de louva-a-deus, nunca foi verificado um comportamento sexual canibal, o que justifica o comportamento ingénuo, que leva muitas vezes à morte dos machos nativos que se aproximam das fêmeas louva-a-deus-sul-africanas (a espécie invasora).
Há investigadores que defendem que os louva-a-deus só apresentam comportamentos de canibalismo sexual quando estão em stress, alvo de experiências sob a luz dos laboratórios ou perturbados com a presença dos observadores na natureza. “Só diz isso uma pessoa que não trabalha realmente com louva-a-deus”, contrapõe ao PÚBLICO Gregory Holwell. “Algumas espécies exibem claramente comportamentos canibais [sexuais] tanto no laboratório como na natureza. E eu já observei canibalismo [sexual] em várias espécies na natureza.”
Os investigadores concluem: “O próximo passo para entender a atracção interespécies e a predação nesta situação passa por desenvolver protocolos experimentais na natureza.”