Reviravolta com polícia a deixar avançar manifestantes em Banguecoque

Manifestantes não encontraram qualquer resistência na ocupação dos edifícios governamentais. A aproximação do aniversário do rei ditou a obrigatoriedade da trégua.

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Valeu de tudo, inclusivamente beijinhos ao polícia de choque Chaiwat Subprasom/REUTERS
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A polícia confraternizou com os manifestantes Dylan Martinez/AFP
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Mulheres polícia distribuíram flores aos manifestantes Christophe ARCHAMBAULT/AFP
Esta manhã, em Banguecoque, polícias e manifestantes posaram juntos para as fotografias
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Esta manhã, em Banguecoque, polícias e manifestantes posaram juntos para as fotografias Indranil MUKHERJEE/AFP
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A polícia ajudou a cortar o arame farpado das barricadas Indranil MUKHERJEE/AFP
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Entre os manifestantes, há um sentimento de vitória Nicolas ASFOURI/AFP

As imagens desta terça-feira eram um total contraste com a violência dos últimos dias, que tinha chegado a deixar quatro pessoas mortas e mais de 100 feridas, em confrontos entre opositores e apoiantes do Governo de Yingluck Shinawatra, irmã do antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, e também no uso de gás lacrimogéneo e balas de borracha pela polícia, ao tentar manter os manifestantes que reclamam a demissão do Governo afastados de vários edifícios, como a Casa do Governo.

Caras sorridentes, pessoas a fotografarem-se a elas próprias nos arredores da Casa do Governo, o gabinete oficial de Yingluck Shinawatra, manifestantes abraçados à polícia de choque, uma atmosfera de festa.

Especulava-se que a tensão, que explodiu violentamente no fim-de-semana e segunda-feira, poderia acalmar com a aproximação do aniversário do rei, Bhumibol Adulyadej, na quinta-feira. Mas ninguém esperava que a polícia acabasse por retirar as barreiras de cimento que na véspera os manifestantes tentavam arrastar com cordas, e o arame farpado.

“Os manifestantes disseram que queriam tomar edifícios governamentais, mas o Governo não quer ver lutas ou confrontos, por isso ordenámos à polícia que retirasse”, disse um porta-voz do Governo, Teerat Ratanasevi, aos jornalistas, cita o Financial Times. “Queremos evitar violência e confronto.”

Durante o dia, os manifestantes não tentaram entrar no edifício.

“Isto é uma vitória para os manifestantes”, disse Kusol Promualrat, um dos manifestantes, citado pelo diário britânico The Guardian. No entanto, muitos diziam que “a missão não está cumprida”, relatava o corresponde da emissora britânica Channel 4.

Esta terça-feira terminava o prazo dado pelo líder dos manifestantes, Suthep Thaugsuban, para a demissão da primeira-ministra. Suthep quer um conselho de não políticos (incluindo-o a ele, porque se demitiu entretanto do Partido Democrata para liderar os manifestantes), acusando o “regime Shinawatra” de usar o poder para benefícios da sua rede de empresas. Diz-se que Thaksin, que fugiu após ter sido acusado por corrupção, continua a gerir o Executivo por vezes por videoconferência, a partir do Dubai.

Muitos manifestantes, da elite de Banguecoque, criticam a corrupção do Governo, eleito por grandes maiorias, constituídas sobretudo pela classe média, operária urbana e camponesa rural do Norte do país, com base em políticas como de subsídios à habitação, compra pelo Governo de arroz a preço abaixo do do mercado, ou cuidados de saúde gratuitos para todos.

Num blogue no site do jornal britânico The Telegraph, o jornalista James Godyer notava no entanto um argumento repetido por manifestantes: que os universitários não tenham de ser mais ouvidos do que os camponeses cujo voto teria sido comprado (e este é um fenómeno que tailandeses comentam como sendo comum e praticado pelos principais partidos).

Entretanto, não eram claros os planos das autoridades para o líder dos protestos. Foi anunciado que havia um mandado de captura contra Suthep, mas até agora este continuava em liberdade.

O Financial Times nota que Suthep está a tornar-se cada vez mais extremista: os protestos tinham começado há um mês com a proposta de uma lei de amnistia que permitiria o regresso de Thaksin Shinawatra e que provocou uma grande oposição popular e depois política. Afastada a lei da amnistia, a oposição pediu o afastamento do Governo, acusando-o de políticas populistas e corruptas e do uso de recursos em proveito próprio.

Com a primeira-ministra primeiro a garantir que não se demitia e depois a dizer que “dentro da Constituição” (para afastar o conselho do povo sugerido por Suthep) fará tudo o que for necessário, abrindo a hipótese de novas eleições, Suthep reagiu dizendo a uma multidão de apoiantes que iria “continuar a lutar” mesmo em caso de eleições. “Porque eles podem sempre voltar para sugar o sangue do povo, roubar as pessoas, desrespeitar a Constituição e fazer de nós escravos”, acusou. “Se as pessoas ficarem contentes com eleições e forem para casa, eu continuarei aqui sozinho”.

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