Iulia Timoshenko faz greve de fome para a Ucrânia assinar acordo com UE
Continuam protestos contra decisão de não assinar acordo de associação com União Europeia na Cimeira de Vílnius, esta semana
"Inicio uma greve de fome ilimitada para exigir ao Presidente Viktor Ianoukovitch que assine o acordo de associação com a União Europeia", afirmou Timoshenko, numa mensagem divulgada pelo seu advogado, perante cerca de mil manifestantes no centro de Kiev. A libertação da ex-primeira-ministra era uma das condições colocadas por Bruxelas para a adesão da Ucrânia a este acordo, que deverá ser assinado na Cimeira da Parceria Oriental, que decorre em Vílnius, a 28 e 29 de Novembro. Geórgia e Moldávia, outras ex-repúblicas soviéticas, vão assiná-lo.
No domingo, cerca de 100 mil manifestantes – segundo a organização – ou 50 mil, segundo a polícia, saíram à rua em Kiev para exigir que a Ucrânia assine este acordo com a UE, no que foi a maior manifestação desde a Revolução Laranja, em 2004, que contrariou a tradicional influência russa neste país. Nesta segunda-feira, os manifestantes pró-União Europeia voltaram a envolver-se em confrontos com a polícia ucraniana em Kiev, quando algumas pessoas tentaram entrar no edifício do Governo e foram repelidos com gás lacrimogénio e golpes de casse-tête.
A manifestação em Kiev foi bem mais pequena do que no domingo. Mas continua a haver tendas montadas na Praça Europeia no centro de Kiev – evocando o que se passou na Revolução Laranja de 2004, quando o actual Presidente, Viktor Ianukovitch, embora eleito, foi afastado do poder, por se considerar que houve fraude eleitoral, que favorecia a tradicional influência russa na política ucraniana. Desta vez, protestam porque o Governo cedeu às pressões de Moscovo para se juntar à união aduaneira com a Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas.
Mas as manifestações pró-União Europeia não se limitaram hoje a Kiev. Em Lviev, no Ocidente da Ucrânia, houve também uma manifestação, que reuniu cerca de 15 mil pessoas, e 12 mil na cidade vizinha de Ivano-Frankivsk, noticia a AFP.
O Presidente Ianoukovitch tentou acalmar os ânimos, prometendo que o país tentará alcançar os padrões europeus, mesmo sem o acordo com a UE. "Hoje tenho de sublinhar isto: não há alternativa à criação de uma sociedade com padrões europeus na Ucrânia e as minhas políticas sempre foram coerentes neste sentido, e continuarão a sê-lo", garantiu.
Oposição pede demissão
A manifestação desta manhã contou com a presença de um dos líderes mais destacados da oposição – Viltali Klitschko, ex-campeão de pesos pesados de boxe. Chamou à decisão do Governo, anunciada na quinta-feira passada, “uma vergonha”, e prometeu continuar os protestos no centro de Kiev. “Vamos continuar a manifestar-nos até que o acordo seja assinado”, garantiu, citado pela AFP. “Vamos exigir a anulação da decisão do Governo e exigir a sua demissão.”
Outros líderes oposicionistas, como Arseni Iatseniuk e Okeh Tiahnibok, discursaram para a multidão, relata a BBC. Pediram também ao Presidente Ianukovitch que demita o primeiro-ministro, Mikola Azarov, e assine o acordo de associação com a União Europeia na Cimeira da Parceria Oriental, que decorre em Vílnius, a 28 e 29 de Novembro.
A União Europeia continua de porta aberta para a Ucrânia, garantiram ainda esta segunda-feira os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, Durão Barroso, num comunicado conjunto. “A oferta de assinar um acordo de associação e de uma área de livre comércio sem precedentes ainda está sobre a mesa. Cabe à Ucrânia decidir livremente que tipo de compromisso deseja manter com a União Europeia”, afirma. Sublinham “desaprovar a posição e acções da Rússia a este respeito” e alertam Kiev de que “considerações de curto prazo não devem ofuscar os benefícios de longo prazo que poderiam trazer essa parceria”.
É sempre a economia
O primeiro-ministro ucraniano, Mikola Azarov, ao anunciar a desistência do acordo com a UE – que será assinado pela Geórgia e a Moldávia –, explicou que o fazia “por motivos puramente económicos”. A Ucrânia está numa situação económica difícil, numa recessão que se prolonga há cinco trimestres e um défice orçamental que poderá ultrapassar 8% este ano. As grandes agências de notação deram-lhe recentemente uma nota comparável à da Grécia, alarmadas com o nível das reservas de divisas estrangeiras, que não dão para mais do que três meses de importações. O Fundo Monetário Internacional recusa conceder ajuda ao país se não forem postas em práticas medidas impopulares, como o aumento do preço do gás.
É neste cenário que entra a pressão da Rússia, o país do qual a Ucrânia depende para se abastecer de gás, embora saiba que a Gazprom, a empresa estatal russa, lhe vende gás mais caro do que a outros países. Moscovo ameaça frequentemente fechar a torneira dos gasodutos por causa das dívidas de Kiev – um argumento sério para que a Ucrânia não saia da sua órbita de influência.
Além disso, um quarto das exportações da Ucrânia destinam-se à Rússia, e durante este ano Moscovo fez sentir de várias formas como poderia criar problemas ao seu vizinho se as alfândegas se fechassem. Durante o Verão, proibiu a entrada em território russo dos populares chocolates ucranianos Roshen, por exemplo, alegando falta de qualidade. Desde o início do ano, as exportações para a Rússia diminuíram em um quarto – e o primeiro-ministro disse claramente que remediar esta situação é a prioridade do seu Governo.