Américo Rodrigues afastado da direcção do Teatro Municipal da Guarda

O novo presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro, não gostou que Américo Rodrigues convocasse uma conferência de imprensa para o contradizer e já o tinha tentado despedir pelo telefone.

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Américo Rodrigues Mário Augusto Carneiro

Foi-lhe formalmente comunicado que cessaria funções pelo novo conselho de administração da Culturguarda, num documento assinado pela recém-empossada presidente, Alexandra Isidro, e datado de quarta-feira, dia 20. Funcionário da câmara e ex-responsável pela sua divisão de Cultura, Rodrigues tinha sido colocado na direcção artística da Culturguarda e do TMG quando o teatro ainda estava em construção, e tem sido nos últimos oito anos o responsável pela sua programação e pela articulação da sala com outros teatros do país e com uma rede de teatros da região espanhola de Castela e Leão.  

O que o documento assinado por Alexandra Isidro diz é que a Culturguarda, em reunião extraordinária, decidiu dar o “seu consentimento” à “intenção” da autarquia de “fazer cessar o acordo de cedência de interesse público” – ou seja, aceitar que Américo Rodrigues regresse à câmara. O ex-director do TMG já se apresentou, de resto, ao serviço, no núcleo de animação cultural do município, que outrora dirigiu.

Os directores artísticos do Teatro Nacional S. João, no Porto, do Teatro Viriato, em Viseu, do Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, do Teatro Virgínia, em Torres Novas, e ainda o director do Centro Cultural Vila Flor, que integram, com o TMG, a rede 5 Sentidos, já divulgaram um comunicado a “lamentar e repudiar o despedimento sumário de Américo Rodrigues”, a elogiar o seu “sentido crítico, independência de espírito e talento criativo”, e a lembrar que o programador agora demitido recebeu em 2011 a Medalha de Mérito Cultural.

Américo Rodrigues diz que já fora demitido pelo telefone por Álvaro Amaro, a poucos minutos de dar início, no passado dia 14, a uma conferência de imprensa na qual se propunha esclarecer todas as circunstâncias relativas à contratação da cantora Cristina Branco para um espectáculo destinado a comemorar o dia da cidade da Guarda, no próximo dia 27.  

Segundo Rodrigues, que levou para a conferência de imprensa documentos que confirmavam as suas declarações, o anterior executivo comprometera-se a pagar 9 mil euros à Culturguarda pelo espectáculo, verba que incluía o cachet da artista – cinco mil euros –, mas também custos de alojamento e alimentação, despesas com a divulgação do espectáculo, entre outras, e ainda o custo do próprio aluguer do TMG, já que de acordo com a nova legislação das empresas municipais estas devem debitar todos os serviços que prestam.

Amaro conseguiu anular a decisão do anterior executivo e propôs-se anular o espectáculo, mas Rodrigues, num momento em que a empresa municipal estava sem administração em funções, sugeriu que fosse a Culturguarda a pagá-lo, uma vez que a verba necessária fora devidamente cabimentada e havia dinheiro reservado para o efeito.

Rodrigues achou necessário dar publicamente estas explicações depois de Álvaro Amaro ter dito à imprensa que a câmara não pagaria, mas que autorizara a Culturguarda a avançar com o espectáculo, adiantando que este afinal só custaria cinco mil euros. Uma alegada redução que o levou a acrescentar que o preço original era de “cinco mil euros mais alcavalas”.

O director demitido diz que Amaro confundiu deliberadamente o custo do cachet com o custo total do espectáculo, afirma que a única poupança residirá no facto de o TMG não cobrar a si próprio o aluguer da sala e não gostou do termo "alcavala", que sugere irregularidade cometida deliberadamente. O PÚBLICO tentou contactar Álvaro Amaro e Alexandra Isidro, mas não conseguiu falar com nenhum deles.

Também o encenador Jorge Silva Melo, dos Artistas Unidos, lamentou esta demissão “arbitrária e caprichosa”, afirmando ao PÚBLICO que também se sente insultado por “este desprezo por quem faz um trabalho sério”. Silva Melo não contesta a eventual substituição de Américo Rodrigues, mas acha que teria sido preferível abrir um concurso público, ao qual este poderia ou não candidatar-se.

Mas, para lá deste caso em particular, o encenador acha que “a questão central é a de saber quem manda nas infra-estruturas construídas com dinheiro do Estado” e defende que estas não podem ser “anunciadas por ministros e secretários de Estado para depois serem entregues às autarquias como se fossem salões de festas”.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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