Jornalista do PÚBLICO vence prémio Direitos da Criança em Notícia
Ana Cristina Pereira distinguida pela reportagem “Em nome do interesse na criança”.
O prémio no valor de 2000 euros, atribuído pelo Montepio e pelo Fórum sobre os Direitos das Crianças e dos Jovens, “destina-se a reconhecer as abordagens jornalísticas que, em crónicas, reportagens ou entrevistas nas áreas da Imprensa, Rádio e Televisão, tenham em conta a promoção e divulgação dos direitos da criança, numa perspectiva crítica, pluralista e inclusiva, sem comportar riscos para as crianças nem no presente, nem no futuro”.
Na altura, “discutia-se o caso de uma mulher a quem o Tribunal de Família e Menores de Sintra mandara retirar sete crianças. Esmiuçava-se o acordo de promoção e protecção, que contemplava uma laqueação de trompas”, explica Ana Cristina Pereira.
“Pediram-me um artigo a esclarecer o que é isso do superior interesse da criança. Como explicar um conceito tão indeterminado? Era preciso encontrar situações concretas. E, em cada uma, ouvir protagonistas, isto é, crianças e jovens em risco. Ter acesso a crianças e jovens em risco pode ser o cabo dos trabalhos. Os adultos tendem a cortar-lhes a voz, inclusive os mais empenhados na sua defesa, apesar de a Convenção sobre os Direitos da Criança lhes conferir direito de exprimirem opinião sobre questões que lhes dizem respeito”, acrescenta.
A partir do caso, Ana Cristina Pereira relata várias situações de crianças e jovens em risco e as dificuldades e cuidados necessários a ter quando se trata de falar com menores. “Temos de ter a certeza de que a criança ou jovem entende que tudo o que disser pode ser publicado e em que moldes. Pode ajudar a presença de um adulto que transmita alguma segurança à criança ou jovem (como um familiar ou um técnico de referência). Mas os adultos podem sentir-se tentados a falar em nome dos menores de idade. Isso aconteceu num outro caso abordado na mesma reportagem”, exemplifica.
Dilema dos nomes
A jornalista lembra também que a “ética manda não identificar crianças e jovens desprotegidos e/ou delinquentes” mas que as crianças ouvidas “queriam ver os seus nomes associados às suas palavras”. Optou por isso por citar “cada uma daquelas crianças referindo apenas um dos seus nomes próprios, omitindo outros nomes próprios e todos os apelidos, não fazendo qualquer referência ao bairro ou freguesia de residência, nem à escola frequentada ou ao lar para o qual uma delas estava a ser conduzida”.
“Não ficariam mais protegidas se tivesse recorrido a um nome falso. Muito menos se, tendo feito isso, tivesse revelado o seu local de residência ou escola. Quem não conhecesse as suas histórias, não as identifica. O artigo não acarreta risco de estigmatização ou represália. Se acarretasse, debateria o assunto com elas até perderem a vontade de ver o nome impresso, como fiz, por exemplo, quando escrevi sobre dois bandos rivais – os Pasteleira Putos Rebeldes e os Estado Terrorista do Aleixo”, sublinha. Ana Cristina Pereira considera, por isso, que este prémio é uma oportunidade de “sublinhar o direito que as crianças têm de exprimir as suas opiniões e o dever que todos nós temos de as ouvir, pelo menos, no que lhes diz respeito”.
Ana Cristina Pereira ganhou no ano passado o prémio Teresa Rosmaninho da Soroptimist, uma organização internacional de mulheres. A jornalista já publicou três livros. Em 2009, editou Meninos de Ninguém sobre crianças e jovens desprotegidos; em 2011, Viagens Brancas sobre produção, tráfico e consumo de cocaína. No ano passado, no âmbito de um trabalho de voluntariado feito para a Casa dos Direitos, uma estrutura que associa várias organizações portuguesas e guineenses, escreveu Desafios - Direitos das Mulheres na Guiné-Bissau.