Fazer exercício físico pode ser uma forma de dar uma mão ao cérebro

Estudo mostra que actividade física, mesmo que iniciada tarde, traz benefícios para funções como a memória e outras capacidades cognitivas. Logo desde as primeiras semanas.

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Os treinos foram em passadeiras e bicicletas estáticas Fernando Veludo

O estudo, que foi agora publicado no jornal científico Frontiers in Aging Neuroscience, focou-se sobretudo nos efeitos da prática imediata de exercício, ao contrário de outros trabalhos que olharam para os benefícios ao fim de mais de seis meses de actividade.

Os investigadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, examinaram as mudanças na irrigação cerebral, cognição e actividade física de 37 adultos sedentários, mas que estavam mentalmente saudáveis, com idades entre os 57 e os 75 anos. Alguns foram incluídos num programa de treinos e outros num grupo de controlo.

O grupo que recebeu treino teve actividade física aeróbica em bicicleta estática ou passadeira supervisionada três vezes por semana, durante 12 semanas. Cada sessão teve a duração de uma hora. A circulação sanguínea cerebral foi controlada antes, a meio do exercício e após o treino através de ressonâncias magnéticas e detectou-se um “aumento do fluxo nas regiões chave da cognição”, nomeadamente no hipocampo, uma zona chave para a memória. Foram também medidos alguns parâmetros cardiovasculares que registaram melhorias.

No grupo que não fez exercício foi feito o mesmo e não se notou este benefício. Os autores perceberam, assim, que o exercício, sobretudo de natureza aeróbica, permite atrasar o envelhecimento cognitivo, nomeadamente em termos de memória, funções executivas, capacidades de visualização espacial e velocidade de processamento da informação.

“A presente investigação sugere que o exercício aeróbico em adultos sedentários pode melhorar a saúde do cérebro”, lê-se no trabalho, defendendo os autores que o facto de os benefícios começarem a sentir-se ao fim de poucas semanas pode “motivar os adultos a manterem uma prática regular”. Além disso, de acordo com a equipa, este é também o primeiro trabalho a explicar de que forma é que o exercício actua no cérebro ao nível da melhoria do desempenho cognitivo – podendo ser importante em estudos futuros relacionados com o envelhecimento e com demências.

Ainda assim, os autores defendem que são necessários mais estudos, não só porque a amostra foi pequena, mas também porque é preciso comparar as diferenças entre o impacto da actividade física na melhoria cognitiva e os efeitos dos exercícios cognitivos tradicionais, a título de exemplo.

Mais exercício, menos medicamentos
Recentemente, no início de Outubro, um outro estudo publicado no British Medical Journal tinha também concluído que o exercício pode ser tão importante como a medicação nas pessoas com doenças cardíacas, rivalizando mesmo com os fármacos na hora de evitar a morte.

O trabalho analisou 305 ensaios clínicos que envolveram 340 mil doentes para perceber o impacto tanto do exercício como dos medicamentos a prevenirem a morte em doentes cardíacos. As conclusões dos investigadores apontam para que, em muitos casos, além da medicação os especialistas devam recomendar exercício físico aos doentes – sendo esta a melhor forma combinada de prevenir ataques cardíacos.

Segundo os cientistas da London School of Economics, Harvard Medical School e Stanford University School of Medicine, a maioria dos doentes acaba por estar medicada, mas por ter uma vida sedentária. E adiantam que, por exemplo, no Reino Unido apenas um terço das pessoas fazem as recomendadas duas horas e meia de exercício moderado ou moderado a intenso por semana. Pelo contrário, o consumo de medicamentos não pára de crescer.

Em 2009 também foi divulgado em Portugal um estudo geral sobre a importância e a prática de exercício realizado por cinco universidades para o Observatório Nacional de Actividade Física e Desporto que concluiu que a maioria dos adultos cumpre os índices recomendados na sua faixa etária: 30 minutos de actividade moderada diária (ou 20 a 25 minutos de actividade vigorosa, três dias por semana). Os idosos, por sua vez, estão abaixo dos 50% no cumprimento das metas recomendadas (idênticas às dos adultos). Nos homens, 45% são suficientemente activos, enquanto as mulheres se ficam pelos 28%.

Na mesma altura foi divulgado um estudo da HF-Action (que analisou os efeitos do exercício físico na morbilidade e mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca) que dizia que bastaria pedalar cerca de meia hora numa bicicleta estacionária ou caminhar numa passadeira, na maioria dos dias da semana, para reduzir o risco de hospitalização ou morte por insuficiência cardíaca.

O trabalho divulgado em 2009 contou com 2331 doentes, com uma média de idade de 59 anos, de 82 localidades dos Estados Unidos, França e Canadá, que foram seguidos durante dois anos em meio. De acordo com os investigadores, os participantes que estavam no grupo do exercício físico reduziram em 15% o risco de morte e hospitalização por complicações da insuficiência cardíaca.
 
 

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