A Sexta de Bicicleta de Luís Quental Pereira

O consultor e designer divide a sua vida entre Braga, de segunda a quinta, e Lisboa, entre sexta e domingo. Tem uma bicicleta em cada cidade, com um comboio a separá-las

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Na juventude já ia de bicicleta para onde os seus amigos iam de acelera. Apesar das saudades desses tempos, em que usava um linda Raleigh oferecida pelo pai aos nove anos, aos 48 Luís Quental Pereira continua a fazer a sua vida de bicicleta sempre que pode. O consultor e designer na área de "user experience" divide a sua vida entre Braga, de segunda a quinta, e Lisboa, entre sexta e domingo. Tem uma bicicleta em cada cidade, com um comboio a separá-las. Faz cerca de 20 km por dia a pedalar de casa para o trabalho, em compras e passeios.

Gostava de ver muito mais gente na rua a pedalar e tem vontade de ajudar quem quiser a passar a ver a vida em cima de um selim com naturalidade, segurança e sem preconceitos. Inscreveu-se no Sexta de Bicicleta, porque acredita que a sua experiência poderia levar mais gente a começar a pedalar.

O que te levou a começar a usar a bicicleta para te deslocares?

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Puro gozo. Uso a bicicleta desde a juventude. Nos anos 90 descobri que, atravessando Lisboa entre a Praça de Espanha e as Olaias à hora de ponta, o fazia bem mais rápido que de carro. Atravessar o Areeiro nesse tempo era uma autêntica guerra, levava com retrovisores e portas a abrir só para me insultar.

Como te deslocavas antes?

Ia a pé. Levava 40 minutos num percurso que hoje, de bicicleta, faço em 15 minutos.

Que tipo de bicicleta ou equipamento utilizas?

Uma bicicleta em Lisboa (velha e pesada de 20 anos) e uma em Braga (bem mais leve e nova). Adorava poder transportar a bicicleta no comboio Alfa entre as duas cidades.

Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?

Sem dúvida! No princípio os meus colegas que pedalam por desporto ficavam muito impressionados por eu não usar capacete. Hoje já se habituaram e entendem que existem formas diferentes de lidar com a bicicleta. A chuva tem sido um tema mais difícil de ser aceite pelos colegas. Acham-me louco, quando chego todo molhado ao escritório.

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Em Braga existe um novo "percurso pedonal ciclável". É mais curto e passei a fazê-lo, mas estou a ponderar mudar outra vez, porque me sinto bem mais confortável no meio dos carros.

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Ao final do dia, de regresso a casa, faço um percurso maior, vou mais devagar pelo centro da cidade, sento-me numa esplanada a beber um café. Acho que o faço de forma inconsciente, porque não quero chegar a casa e parar de pedalar tão cedo.

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?

Não escolho ninguém em especial. Ao contrário do automóvel, a bicicleta torna-nos mais iguais e nivelados socialmente. Não sei se poderia continuar a ver essa pessoa como "da praça pública". Seria apenas mais uma pessoa a passar na via pública. Sem essas diferenças, as nossas cidades e as nossas sociedades seriam bem melhores, não tenho dúvidas.

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na sua cidade é impossível?

Respondo com uma pergunta a quem acha que não pode andar de bicicleta na sua cidade: quanto tempo demoraria a fazer estes percursos em Lisboa no seu automóvel? Há mais de 20 anos que ando de bicicleta em várias cidades e nunca encontrei nada que me impedisse de ir de bicicleta fosse onde fosse. O meu princípio é: onde podemos ir de automóvel, podemos ir de bicicleta e, por vezes, bem mais rápido e barato. Se a subida é muito íngreme, desmonta-se e vamos a pé. Normalmente só demora mais 10 minutos e depois vem uma descida bem rápida que compensa. Pode haver muitas desculpas, mas não passam disso mesmo, desculpas.

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