Hoje, há “wi-fi” em todo o lado. No lugar mais recôndito do planeta. Nos “bunkers” daqueles que temem um holocausto nuclear. Na casa daquele vizinho muito chato. Na casa-de-banho. Em todo o lado.
Até na Lua deve haver “wi-fi”. Assim que pousou os pés em solo lunar, Neil Armstrong disse aquela frase imortal sobre um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade. Isto porque a frase é de 1969. Se fosse em 2013, a primeira frase seria menos poética: “Alguém sabe a 'pass' da 'net'?”.
Talvez houvesse. A rede seria “Moon28”, a palavra-chave “moonlight” ou “Ban Ki-moon”. Em vez de estudarem o satélite natural do nosso planeta, os astronautas iriam aceder ao Facebook. Frases como “na Lua é que se está bem” ou “luinha ao fim da tarde” iriam fazer as delícias dos seus seguidores. Não poderia faltar uma pegada em sépia, no Instagram. Ou uma “selfie”.
Até acabar a bateria (ou o oxigénio), seria uma desbunda.
O “wi-fi” veio mudar a forma de se estar em muitos lugares. Por exemplo, no café. Qualquer tasca tem “wi-fi”. Antigamente, havia discussões, vinho e pataniscas. Hoje, há “likes” e comentários. Antigamente, lia-se as notícias num jornal cheio de manchas de vinho tinto. Hoje, sabe-se tudo no ecrã do telemóvel (que pode, felizmente, acabar com manchas de vinho). Antigamente, jogava-se à sueca ou às damas. Hoje, joga-se "Candy Crush". Antigamente, as discussões acabavam à chapada. Hoje, resolvem-se na Wikipédia.
O “wi-fi” nos cafés multiplicou o número de chávenas que aparecem no Instagram. O “wi-fi” em restaurantes garante comida no Facebook. Imaginem o potencial do “wi-fi” em bordéis.
Por outro lado, o “wi-fi” tornou a parvoíce mais abrangente, em termos territoriais. Aquele estúpido que inunda o café, todos os dias, com parvoíce compulsiva, pode almejar a outros horizontes: comentar a publicação de um amigo que está a quilómetros de distância. Chegar mais longe e a mais gente. Por outras palavras: o “wi-fi” tornou a parvoíce numa pandemia.
É mais grave não ter bateria do que ter deixado a carteira em casa. Não saber a palavra-chave é como estar fora do clube. Apesar de tudo, ainda há resistentes que tentam conversar, na mesa do café, mesmo estando toda a gente a olhar para o telemóvel. Há mais gente distraída, nos cafés, hoje em dia, do que num comício do PCP.
Uma vez, adormeceram 50 pessoas num comício do PCP. Depois, Jerónimo de Sousa começou a falar.
O “wi-fi” é a segunda invenção que mais ligações criou, entre as pessoas, sem que estas se tocassem. A primeira é a pornografia.
Estamos dependentes e não nos vamos livrar disto. Um local sem “wi-fi” é como uma festa de Berlusconi sem gajas: até se pode lá estar, mas o tempo não passa.