Directora do Museu Nacional Soares dos Reis queixa-se da poluição do túnel de Ceuta

Passados sete anos desde a inauguração do túnel, efeitos sobre o palácio das Carrancas são visíveis, avisa Maria João Vasconcelos.

O túnel de Ceuta desemboca poucos metros antes do palácio das Carrancas, onde está o museu
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O túnel de Ceuta desemboca poucos metros antes do palácio das Carrancas, onde está o museu Fernando Veludo/Nfactos
o Palácio dos Carrancas alberga o Museu Nacional Soares dos Reis desde 1940
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o Palácio dos Carrancas alberga o Museu Nacional Soares dos Reis desde 1940 Paulo Ricca/Arquivo

Maria João Vasconcelos, afirma que quem chega ao Palácio das Carrancas, onde funciona o museu, “percebe facilmente o perigo que é principalmente para grupos de crianças, que são cerca de um quinto dos visitantes, não ter uma barreira e haver um túnel a 20 metros”.

O túnel, que começa na rua de Ceuta, tem uma das suas saídas na rua D. Manuel II, mesmo em frente ao museu, e as pequenas estruturas de metal que serviam de barreira estão parcialmente destruídas. A directora lembra que ainda há bem pouco tempo prestou depoimento como testemunha no caso de atropelamento de uma voluntária do museu.

A construção desta solução rodoviária foi motivo de polémica nos primeiros anos de gestão de Rui Rio na Câmara, que herdou do anterior executivo um túnel inacabado. A solução encontrada foi motivo de embargo pelo ministra da Cultura, da altura, Isabel Pires de Lima, numa acesa disputa que se concluiu em 2006 com a abertura do túnel.

“Para além das questões concretas de segurança física, há a segurança das nossas colecções, porque os carros ao subirem o túnel provocam uma poluição brutal no museu, o que exige um cuidado renovado”, afirma Maria João Vasconcelos. A directora diz que “as manchas negras nas vitrinas são impressionantes”.

A directora tem a esperança de que a localização da saída do túnel venha a ser revista”, mas afirma que de momento essa “não é uma prioridade”. “Não vamos estar a insistir em coisas que não se vão resolver rapidamente, temos tanto em que pensar”, acrescentou.

Este foi o último episódio nos 180 anos de história de um museu que, em 2001, tinha beneficiado de importantes obras, sob a direcção de Fernando Távora, que permitiram ampliar instalações e melhorar todo o espaço que inclui um anfiteatro, cafetaria, o espaço do antigo velódromo real.

O Museu Soares dos Reis foi fundado durante o cerco do Porto por D. Pedro, que percebeu que “extintas as ordens religiosas todo o seu património ficaria à mercê do saque se não fosse recolhido e teve essa visão de criar um estabelecimento que foi o museu, servindo para recolher também o espólio confiscado aos miguelistas, que foi depois devolvido”.

Com a designação de Museu Portuense de Pinturas e Estampas, instalou-se no Convento de Santo António, onde hoje funciona a Biblioteca Municipal do Porto. O seu acervo inicial incluía peças dos mosteiros da cidade mas também de Tibães, Braga, e de Santa Cruz de Coimbra.

Em 1839 transitou para alçada da Academia Portuense de Belas-Artes, criando uma relação forte entre o museu e o ensino artístico no século XIX que resulta numa importante colecção de pintura e escultura do Porto oitocentista. O espólio foi sendo enriquecido com colecções como a do extinto Museu Municipal ou do Novo Museu Portuense que albergava a colecção do comerciante de origem inglesa João Allen.

“Esta colecção foi comprada num movimento em que cidade se juntou como mais recentemente fez com o Coliseu. É uma coisa que tem um certo paralelo, porque era uma colecção particular que não se podia perder e a cidade uniu-se para a adquirir”, lembra Maria João Vasconcelos.

O nome do escultor Soares dos Reis foi-lhe atribuído em 1911, adquirindo em 1932 o estatuto de Museu Nacional e em 1940 fixou-se nas actuais instalações no antigo palácio real das Carrancas.