"Zona das galerias” em Miguel Bombarda, no Porto, nasceu há 20 anos
Fernando Santos, cuja galeria foi a primeira a instalar-se aqui, defende a conversão de toda a rua numa artéria pedonal.
“Há 20 anos era muita diferente, era uma zona residencial conforme ainda é hoje, mas era uma zona sem comércio e hoje a rua transformou-se e é uma referência”, sustenta Fernando Santos que gostava de ver o novo executivo camarário retomar a ideia de ampliar o espaço pedonal para toda a artéria.
A Miguel Bombarda e as ruas adjacentes, concentram hoje cerca de 20 galerias, mas a zona alberga também lojas de moda, de mobiliário, cabeleireiros e espaços de comércio alternativo como o CCB- Centro Comercial Bombarda.
Há duas décadas, Fernando Santos tinha uma galeria frente ao palácio de Cristal quando encontrou nas proximidades um armazém de vinhos que transformou na primeira galeria de Miguel Bombarda. Hoje tem também uma antiga padaria transformada em galeria e uma garagem que funciona como espaço de exposições alternativas. “Era uma rua com tantos espaços disponíveis que acabei por fazer o convite aos meus colegas”, recorda Fernando Santos que hoje representa alguns dos nomes mais relevantes das artes plásticas portuguesas, caso Gerardo Burmester, Pedro Cabrita Reis, Nikias Skapinakis ou Alberto Carneiro, mas também estrangeiros como Georg Baselitz ou Antoni Tàpies.
A história da relação de Fernando Santos com a arte começou em Amarante, onde o pai era o responsável pelo museu local e prosseguiu no Porto, onde foi convidado a “integrar o projecto” da galeria Nazoni. “Foi uma universidade para mim”, confessa, mas ao fim de sete anos acabou por montar o seu projecto, “quando a Nazoni começou a dar sinais de tremeliques”.
Recusa dizer em que lugar de um hipotético “top” estaria a sua galeria, optando por afirmar que faz o que faz “com muito carinho” e o “melhor” que pode e que talvez isso o faça “diferente das outras” e lhe garanta “ao longo deste percurso uma actividade que as pessoas respeitam muito”. “Há um triângulo que tem de funcionar muito bem entre o artista, o galerista e o coleccionador. Tem que haver uma relação de muita transparência, muita honestidade e fidelizar o coleccionador é muito importante, porque as pessoas são desconfiadas se não dermos essa ideia de seriedade... Não é só vender, é preciso motivar os artistas, é preciso conhece-los, isto é uma família”, afirma.
Fernando Santos garante que nos últimos 25 anos “o mercado de arte funcionou, houve muito dinheiro, as casas estavam vazias a arte acabou por mexer com a vida das pessoas em termos da decoração e de toda a ostentação que começou a haver”. Pertence a essa altura a peça mais cara que vendeu, um Tàpies, por cerca de 300 mil euros.Hoje, afirma, “as casas estão cheias, há poucos coleccionadores em Portugal” vivendo-se “uma crise completamente diferente das outras, que não se reflectiram tanto nas vendas”. Para Fernando Santos, se “as coisas estão um bocado paradas”, não se pode baixar as mãos”. “Temos de manter a nossa actividade, temos uma função pedagógica, soubemos poupar para tempos mais difíceis e vamos funcionando com a programação sempre de qualidade que é importante para manter a galeria”, acrescenta.
Destaca o papel “importantíssimo na divulgação” que o Museu de Serralves tem tido - “a instituição de arte mais prestigiada do país” - e lamenta que não exista em Portugal, especialmente para as pessoas que nos visitam, “uma instituição nacional que tenha uma colecção de arte portuguesa permanente”.
A crise não retirou a Fernando Santos a vontade de fazer mais. Enquanto vai mostrando os seus espaços à agência Lusa, que incluem também um armazém ao lado da galeria, fala de anexar mais uma área que lhe permitiria ligar Miguel Bombarda ao largo da maternidade Júlio Dinis. Mas o seu projecto de eleição era a ampliação da zona pedonal, que hoje se limita a um quarteirão, a toda a extensão de Miguel Bombarda. “Tenho esperança que Rui Moreira pegue nisso, porque os turistas hoje vêm cá à procura da zona das galerias e saem um pouco desiludidos”.