Projecto português de pastagens contra as alterações climáticas vence concurso europeu
Pastagens Semeadas Biodiversas consideradas a melhor solução apresentada no concurso Um mundo que me agrada.
Anunciado esta quinta-feira à noite em Copenhaga (Dinamarca) pela Comissão Europeia, na cerimónia de entrega dos prémios Sustainia, o prémio distingue um projecto promovido pela Terraprima, empresa de serviços ambientais portuguesa, e envolve mais de 1000 agricultores portugueses. Sustentada por três projectos financiados pelo Fundo Português do Carbono, a Terraprima fez, desde 2008, contratos com estes agricultores, pagando-lhes pelos serviços de captura de carbono feita pelas pastagens biodiversas.
Estas pastagens são formadas por 20 variedades diferentes de plantas. A pastagem acaba por se adaptar ao tipo de solo onde é plantada. Os agricultores têm de comprar estas sementes e, posteriormente, têm o apoio técnico da Terraprima durante o projecto.
Além de capturarem mais carbono, estas pastagens enriquecem o solo de matéria orgânica, protegem contra a seca e são mais nutritivas para os animais que se alimentam delas, evitando que os agricultores tenham de comprar mais alimento, que normalmente é produzido de uma forma intensiva.
“Estou muito contente pelo reconhecimento deste projecto”, disse ao PÚBLICO Tiago Domingos, director da Terraprima e professor de engenharia ambiental do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa. “É o reconhecimento do meu trabalho, de toda a equipa da Terraprima, dos agricultores e do Estado português”, defende, acrescentando que este prémio dá visibilidade ao projecto a nível internacional e “pode ajudar a expandir este sistema dentro de Portugal e em muitos países”.
A produção de pastagens biodiversas começou por ser uma ideia australiana. Mas na década de 1960 David Crespo, engenheiro agrícola, começou a apurá-la, estudando, durante décadas, as melhores sementes para o solo português. Em 1990, fundou a empresa Fertiprado.
Na última década, a Terraprima olhou para estas pastagens e foi estudar os seus benefícios. Foi assim que descobriu que, usando adequadamente esta técnica, era possível criar pastagens mais nutritivas, solos mais ricos e capturar mais dióxido de carbono da atmosfera. Hoje, estas pastagens crescem em 50.000 hectares de terreno português, principalmente no Alentejo, onde as pastagens estão associadas ao regime de montado.
“Este projecto é o exemplo perfeito de como uma solução prática contra as alterações climáticas pode também poupar dinheiro, criar emprego e gerar crescimento”, disse a comissária europeia para a Acção Climática, Connie Hedegaard. “O facto de o concurso Um mundo que me agrada ter atraído tantos projectos inovadores de toda a União Europeia é muito encorajador. Há que desenvolver mais estas soluções para construirmos um mundo que nos agrada com um clima de que gostamos”, acrescentou a comissária.
O concurso pretendeu recolher ideias criativas oriundas de toda a Europa sobre inovações com baixo teor de emissões de carbono. Foram apresentados 269 projectos, votados depois pelos cidadãos e, no final, os melhores foram apresentados ao comité dos prémios Sustainia. O concurso faz parte da campanha de sensibilização pública da Comissão Europeia Um mundo que me agrada com um clima de que gosto, que promove soluções para as alterações climáticas.
Agora, o projecto português irá gravar um vídeo profissional, recebendo apoio para a sua promoção nos meios de comunicação social europeus, refere um comunicado da Comissão Europeia.
“Portugal é capaz de ter uma ideia que funciona e inova”, sublinhou por sua vez Humberto Rosa, ex-secretário de estado do Ambiente e actual director do programa de adaptação e de tecnologia de baixo carbono, que pertence à Direcção Geral para a Acção Climática na Comissão Europeia. “Neste caso concreto, inova no ambiente.” Humberto Rosa fez parte do júri europeu do concurso.
Havia dois outros projectos a competir com as pastagens semeadas biodiversas. Um belga, que promove a redução das emissões de carbono nos aeroportos, e o terceiro, polaco, que incide na redução da energia gasta nas casas.
O PÚBLICO viajou a convite da Comissão Europeia