Após diversas exposições em Nova Iorque ou Miami, agora é a vez de Sara Bichão se apresentar aos dinamarqueses, na exposição Eccentric Exercise – International Contemporary Drawing, que tem lugar na galeria copenhaguense “Les Gens Heureux”.
A exposição desafia-se a enfrentar “os limites do desenho”, que antes era visto, segundo a artista, como “apoio à obra de arte”. “O desenho, hoje, já não precisa de representar nada. Tal como na música, começamos a perguntar o que é a poesia dentro da linha, ou seja, como podemos tornar o desenho em algo poético”.
A acompanhar a portuguesa estão outros artistas internacionais, como o israelita Guy Goldstein, o mongol Tuguldur Yondonjamts e a sérvia Ivana Ivkovic. Os artistas já se conheciam da Residency Unlimited, em Nova Iorque. A curadora Henriette Noermark, que também trabalhava na residência artística, ficou a par do trabalho deles e, em conjunto, decidiram organizar a exposição.
“Plant”, a obra de Sara Bichão, foi criada por forma à artista poder “transportá-la para qualquer lado, sem pagar exageros de transporte de avião”. A artista dobrou e vincou o “corpo de uma folha" de grandes dimensões, o que lhe permite diversas figurações e “possibilidades geométricas de dobragem para o centro”.
A peça desafia a estaticidade da arte, já que o seu aspecto varia consoante a luz do espaço onde é exibida, numa dicotomia entre “o dia e a noite”. Assim, enquanto na presença da luz apenas se vislumbra “um plano grande no chão”, na sua ausência o objecto transforma-se num círculo, pintado pela artista, por forma a criar um efeito fluorescente. “É tudo muito pouco geométrico, quando comparado ao que se vê à luz. Transporta as pessoas para um espaço mental porque tudo o que vêem ao centro é uma figura abstracta – o círculo, símbolo da existência”, conclui Sara Bichão.
A abertura da exposição contou com uma performance da artista portuguesa – repetida por duas vezes – onde, à medida que abria a peça, esta ganhava diversas formas, assumindo-se como “uma pirâmide ou uma flôr”. “Foi muito bom, estava cheio. As pessoas não estavam nada à espera. É uma peça que, por razões quase ancestrais, nos deixa maravilhados por causa do escuro, da luz e da revelação”, reflecte a artista sobre a experiência.
Depois da exposição em Copenhaga, o grupo de artistas pretende expandi-la para Belgrado, na Sérvia, e lançar uma publicação, em Nova Iorque, que deverá sair no próximo ano.
“Existência, contemporaneidade e poesia”
O processo de criação é, todo ele, inspirado nas situações quotidianas. “Normalmente é um processo fluído e espontâneo. Quando há uma proposta temática, aí sou mais fria e projecto uma ideia. Mas sempre de acordo com os meus princípios de existência, contemporaneidade e poesia”, afirma a artista.
Quando a questionamos sobre a decisão de dar a obra por concluída, Sara Bichão afirma que decisão é instintiva. “Não há explicação. Quando sinto que há um espaço lá dentro, um universo que me parece que funciona, então aquilo já não é só meu e existe para as pessoas”.
Actualmente, a artista está a fazer uma residência artística no Carpe Diem Arte e Pesquisa, situado na Rua do Século, Bairro Alto, em Lisboa. “Em Janeiro de 2014 vou ter lá uma exposição de "site-especif art", ou seja, as obras só fazem sentido naquele espaço”. Em Março e Abril do mesmo ano, a portuguesa tem marcada uma exposição na Galeria Bessa Pereira, em Lisboa.
A nível internacional, a artista portuguesa diz-se disponível para expôr o seu trabalho “em qualquer parte do mundo” e vai voltar à Rooster Gallery, em Nova Iorque, em Outubro e Novembro de 2014. Vida de artista plástica em Portugal? “Não é fácil, mas é uma condição. Continuo a viver em Lisboa, mas sempre a trabalhar a nível internacional”.