Assassínio de dois militantes do Aurora Dourada faz temer violência política na Grécia
Homens encapuzados dispararam contra sede do partido neonazi, sob cerco das autoridades desde a morte de cantor de hip-hop. Polícia suspeita de extremistas de esquerda.
Testemunhas contam que os dois atacantes chegaram de motorizada ao local, no subúrbio de Neo Iraklio, a norte da capital, e um deles abriu fogo contra as pessoas que se encontravam à entrada. Num comunicado, o Aurora Dourada diz que os seus dois militantes, de 20 e 23 anos, “foram executados à distância de meio metro” e que, antes de deixarem o local, o atacante “esvaziou literalmente as armas sobre eles”. Um terceiro homem, de 29 anos, foi também alvejado e, segundo o Ministério da Saúde, a sua situação é considerada “muito crítica”.
A notícia causou calafrios na classe política grega, escreve o jornal britânico Guardian, recordando que o ataque acontece quase dois meses depois de Pavlos Fyssas, músico de hip-hop e activista da esquerda grega, ter sido morto por um simpatizante do partido neofascista.
O homicídio provocou indignação no país e precipitou uma investigação policial que levou à detenção do líder da Aurora Dourada, Nikos Michaloliakos, e de vários deputados por suspeitas de associação criminosa. Os responsáveis, três dos quais ficaram em prisão preventiva, não são acusados pelo homicídio mas de usarem o partido como cobertura para actos ilegais, incluindo treino de milícias para ataques a imigrantes.
Com o clima político já tenso – na semana passada milhares de apoiantes do partido neonazi manifestaram-se contra o que dizem ser o cerco ao partido, a quem o Parlamento cortou dias antes o financiamento estatal – teme-se que a acção de sexta-feira desencadeie um ciclo de vingança imparável.
O receio aumenta face às informações de que a polícia, apesar de não descartar qualquer hipótese, está a privilegiar a pista de que o duplo homicídio tenha sido cometido por extremistas de esquerda, ainda que a maioria das acções atribuídas a estes grupos não tenha causado vítimas mortais.
Não foi o caso da autodenominada Seita dos Revolucionários, um movimento obscuro que, recorda a AFP, reivindicou o assassínio, em 2009, de um polícia no centro de Atenas e a execução, no ano seguinte, de um jornalista à porta de sua casa. Nos últimos meses, um grupo que se auto-intitula Conspiração das Células de Fogo reivindicou vários ataques com explosivos, como o que destruiu o carro da directora de uma prisão de Atenas.
Vários jornais gregos referem que a arma utilizada no duplo homicídio de ontem será idêntica à usada no ataque contra o polícia de Atenas.
“Este é um desenvolvimento muito perigoso, que pode conduzir-nos a um ciclo de derramamento de sangue num país que já está a desfazer-se”, disse Andreas Papadopoulos, porta-voz da Esquerda Democrática, partido que abandonou recentemente a coligação com os socialistas e conservadores. “Há quem esteja a preparar o país para a guerra civil”, disse, de forma menos contida, o líder do partido de direita Gregos Independentes, dizendo suspeitar que “há centros estrangeiros” interessados em desestabilizar a Grécia.
O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, terá ouvido com choque as notícias do ataque, escreve o Guardian, mas o porta-voz do Executivo já avisou que “os homicidas, quem quer que eles sejam, vão ser tratados sem misericórdia”.