Negócios em países lusófonos têm feito muito para afirmar o português no mundo
A língua portuguesa quer ter um lugar próprio nas organizações internacionais e ser língua de referência na inovação e na ciência.
A conferência, que abriu nesta terça-feira na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa e distribuiu depois as conferências por várias salas da Reitoria e da Faculdade de Letras, serviu de local de partilha de novas recomendações para afirmar o português nos cinco continentes — através de uma maior presença nas organizações internacionais, na investigação e na ciência e de uma maior aposta do ensino do português no estrangeiro e junto das diásporas, apresentadas como “um dos principais motores” da difusão da língua e “uma fonte de preservação linguística, cultural e identitária” pela académica brasileira Edleise Mendes.
Um exemplo dado ao longo do dia de apresentações de dezenas de especialistas vindos dos oito países lusófonos foi o da China, que, pelo seu crescente interesse em desenvolver relações económicas com países lusófonos como o Brasil e Angola, também desenvolve um interesse pela língua portuguesa. O crescimento do ensino do português na Ásia “tem sido exponencial”, acrescentou a especialista.
O caso do interesse da China pelo mundo lusófono tinha antes sido notado na intervenção do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, presente na cerimónia de abertura na Aula Magna, para frisar “como língua e economia andam de mãos dadas”. Machete lembrou ainda que o português é a sexta língua mais falada no mundo, a terceira europeia de expressão global e a primeira no hemisfério Sul e considerou que a conferência tinha as condições para representar “um momento histórico” de definição de uma estratégia para projectar o português no mundo.
O interesse da China pelo português também foi dado por Eugénio Anacoreta Correia, presidente do conselho de administração do Observatório de Língua Portuguesa, que referiu o potencial de uma língua em franca expansão que se estima represente cerca de 5% do comércio mundial. "O extraordinário desenvolvimento do ensino do português tanto no Extremo Oriente como em outras regiões do globo tem por base, essencialmente, interesses de ordem económica", disse na conferência.
O especialista lembrou também o potencial criado pelo crescimento previsto da população nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estima que venha a ser, em 2050, nos oito países, de 350 milhões de pessoas. E recomendou que a CPLP “caminhe como uma efectiva comunidade de povos unidos por uma mesma língua”. Disse-o na mesma mesa em que o académico moçambicano Lourenço do Rosário lembrou que nem toda a gente fala português nos países lusófonos e que o futuro da língua portuguesa não se pode traçar esquecendo as 330 línguas diferentes, “nacionais ou minoritárias”, que existem nos oito países da CPLP e “são contribuições imprescindíveis para o futuro da língua portuguesa”.
Língua de comunicação na ONU?
“A língua portuguesa tem de continuar a tentar alcançar um espaço que ainda não tem”, afirmou o académico Ivo de Castro, presidente da comissão científica da conferência, na cerimónia de abertura. O professor referia-se aos objectivos da língua portuguesa por conquistar “um espaço maior do que o actual”, como língua de comunicação nas organizações internacionais como as Nações Unidas, um dos cinco grandes temas que, pela sua “importância e premência”, são tratados na conferência.
O português está ao nível de outras línguas que já alcançaram o estatuto de línguas oficiais da ONU, como por exemplo o árabe, notou, por ser turno, Oliveira Encoge, representante da CPLP no Ministério das Relações Exteriores de Angola, para quem “o português não está devidamente representado nas organizações internacionais”. E lembrou que a realização de dois grandes eventos desportivos no Brasil nos próximos anos — o Campeonato Mundial de futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016 — representa uma oportunidade para a língua portuguesa se projectar no mundo.
Além desse espaço a conquistar nos fóruns internacionais, o professor Ivo de Castro referiu, com especial destaque, “a defesa de um espaço maior do que o actual para a afirmação da língua portuguesa como língua para construir, escrever e comunicar ciência no mundo”.
Na sua apresentação, notou também o papel das diásporas na transmissão da língua e a importância da economia como motor da difusão do português. Evocou a dimensão económica da língua e incluiu “a importância do ensino da língua a estrangeiros; para melhor lerem os originais Camões e Pessoa, mas muitos para fazerem negócios”. E concluiu: “Temos de estar preparados para dar um ensino de qualidade às multidões que nos procuram” para aprender o português.