Centro de documentação sobre prisão do Tarrafal está pronto
Alfredo Caldeira, que participa no Tarrafal de Santiago nos trabalhos da primeira conferência internacional "Rota dos Presídios no Mundo Lusófono", indicou que o centro vai ser instalado em breve no próprio campo e também no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde e que estará disponível também na Internet.
"Junta documentos de Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal. Não esgota tudo, mas são cerca de 700 a 800 documentos fundamentais, como milhares de páginas e de fotografias. A nossa ideia é que, ao tornar acessível esse centro de documentação histórico, também possam aparecer outras memórias", afirmou.
Alfredo Caldeira, que em Abril de 2009 comissariou, no mesmo local, o simpósio internacional sobre o também conhecido como o "campo da morte lenta", salientou a importância de se criar o repositório, para que se possa resgatar a memória do que foi a criação dos campos de concentração portugueses nas antigas colónias em África.
"A Fundação Mário Soares tem tentado sempre, ao longo dos anos, preservar esta memória. Quando foi o simpósio, fez-se a exposição, ainda patente, sobre o Campo do Tarrafal, que foi o resultado de uma investigação histórica bastante avançada em relação ao que se conhecia do campo", lembrou.
O responsável da FMS realçou, por exemplo, os despachos de António Oliveira Salazar, datado de 1935, em que determinou a construção do campo, e do então ministro das Colónias, Adriano Moreira, de 1961, a ordenar a reabertura do campo.
Alfredo Caldeira alertou também para a necessidade de "clarificar todo o modelo institucional" do que é o terreno do campo, para o que é preciso uma "direcção clara", com intervenções de entidades nacionais e internacionais, públicas e privadas.
O Campo de Concentração do Tarrafal foi criado pelo regime fascista português em Abril de 1936 sob o nome de "Colónia Penal do Tarrafal" e, durante a primeira fase do seu funcionamento, que durou até Janeiro de 1954, acolheu 340 prisioneiros antifascistas portugueses, detidos arbitrariamente e sem qualquer direito de defesa.
Em Junho de 1961, após o início da luta desencadeada nas colónias portuguesas em África, o campo de concentração foi reaberto pelo regime colonial com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom e, desta feita, para encarcerar nacionalistas de Cabo Verde, Angola, Guiné e Moçambique.
A segunda fase do "campo da morte lenta", já sem a célebre "frigideira" - hoje totalmente imperceptível -, durou 13 anos, até à data em que se deu o seu encerramento definitivo, a 1 de Maio de 1974, depois de por lá terem passado 238 nacionalistas africanos lusófonos.
A "Rota dos Presídios do Mundo Lusófono", institucionalizado sexta-feira, pretende resgatar a memória do que se viveu nos campos de concentração criados pelo regime salazarista fora de Portugal.