Cavaco diz que “mal-entendidos” e “desinformações” com Angola vão ser ultrapassados

Presidente da República revelou que houve contactos entre o seu gabinete e José Eduardo dos Santos na terça-feira.

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Cavaco Silva Miguel Madeira

Em declarações aos jornalistas, à margem da XXIII Cimeira Ibero-Americana, na Cidade do Panamá, o chefe de Estado português adiantou que na terça-feira à tarde "ocorreram contactos" entre o seu gabinete e o gabinete do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e que "a conversa correu bem".

Questionado sobre a que "mal-entendidos" e "eventuais desinformações" se estava a referir, o Presidente da República Portuguesa respondeu que não é altura de os "avivar", mas sim de trabalhar para os ultrapassar. "Eu não irei avivar nada daquilo que pode eventualmente ter estado por detrás desses mal-entendidos", acrescentou.

Segundo Cavaco Silva, "quando as relações entre dois países são muito intensas, como é o caso de Portugal e de Angola, por vezes surgem mal-entendidos".

"Eu estou seguro de que esses mal-entendidos vão ser ultrapassados. É essa a vontade das autoridades portuguesas, e estou certo de que será também essa a vontade do Presidente José Eduardo dos Santos, que sei que tem um grande apreço pelo povo português", afirmou.

"As relações muito especiais que existem entre Portugal e Angola não podem ser postas em causa por mal- entendidos ou por eventuais desinformações que venham a público, quer em Portugal, quer em Angola. E é nesse sentido que eu irei continuar a trabalhar", reforçou.

O Presidente da República Portuguesa começou estas declarações assumindo-se como "um defensor activo do fortalecimento das relações de amizade e de cooperação entre Portugal e Angola", apontando as "relações intensas entre os dois" como "mutuamente benéficas" e qualificando os angolanos e portugueses como povos amigos.

Em seguida, Cavaco Silva referiu-se aos responsáveis políticos angolanos, aos empresários angolanos que investem em Portugal, aos empresários portugueses presentes em Angola e às comunidades emigrantes portuguesa e angolana nos dois países.

"Os agentes políticos angolanos, escolhidos pelo povo em eleições consideradas livres e justas pela comunidade internacional, merecem todo o nosso respeito", considerou.

Quanto aos empresários angolanos, defendeu que Portugal deve acolhê-los "com a mesma abertura e o mesmo respeito com que os empresários portugueses são acolhidos em Angola" e que "o investimento estrangeiro, incluindo o investimento de origem angolana, é importante para o crescimento económico português e para a criação de emprego em Portugal".

O chefe de Estado português falou também do papel dos empresários portugueses presentes em Angola: "Devem continuar a contribuir para o desenvolvimento de Angola e para a melhoria do bem-estar da população, no respeito pelas orientações e pelas prioridades definidas pelo Governo angolano. Os empresários portugueses devem contribuir, cooperar para o fortalecimento e a melhoria da competitividade da classe empresarial angolana."

"Não podemos esquecer que Angola é o nosso quarto cliente, que vivem e trabalham em Angola mais de 100 mil portugueses. Existe também uma comunidade angolana forte em Portugal, e Portugal é também um mercado importante para a produção angolana", assinalou.

"Eu estou seguro de que as actuais dificuldades irão ser ultrapassadas", concluiu.

Interrogado se já tinha falado com o Presidente de Angola, declarou: "Na terça-feira à tarde, ocorreram contactos entre o meu gabinete e o gabinete do Presidente José Eduardo dos Santos. É assim que as coisas devem ser tratadas, e de forma discreta."

Segundo Cavaco Silva, "a conversa correu bem entre os dois gabinetes".

Quanto à existência ou não de cooperação estratégica entre Portugal e Angola, afirmou: "Foi um assunto que eu tratei com o Presidente da República de Angola quando fiz a minha visita oficial. Eu estou convencido de que as relações entre Portugal e Angola, ultrapassadas estas dificuldades, irão continuar no sentido de um fortalecimento cada vez mais estreito, em todos os domínios: no domínio económico, no domínio social, no domínio da educação, da saúde, e também no diálogo político. É isso que eu espero."

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, considerou na terça-feira que "o clima político actual" da relação entre Portugal e Angola "não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada" entre os dois países.

Através de uma nota divulgada na terça-feira, o Governo português manifestou surpresa ante as palavras do Presidente angolano sobre a relação entre Portugal e Angola e reiterou a importância e o "alcance estratégico" que tem atribuído a esse relacionamento bilateral.