Há cada vez mais pessoas com problemas de dependência de álcool e drogas a procurar ajuda
A cannabis e a heroína foram as drogas mais utilizadas pelos novos consumidores em 2012. A crise poderá justificar o aumento de recaídas.
Em conferência de imprensa nesta quinta-feira, João Goulão, director-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), apresentou os dados relativos ao Movimento Clínico IDT 2002-2012. As recaídas dos consumidores de heroína, a utilização do álcool como antidepressivo e o aparecimento de novas substâncias psicoactivas, como o crack, foram identificados como os principais problemas.
“O crack está a aparecer no nosso mercado, na nossa sociedade”, disse Goulão. Esta droga, sucedâneo da cocaína, está relacionada com ambientes festivos. “Estes sucedâneos mais baratos, a pasta base e o crack, são altamente geradores de adição, altamente geradores de degradação e têm efeitos comparáveis à heroína, nos contextos de outros tempos, que todos nos lembramos de ver em Portugal”, frisou. Não sendo ainda um fenómeno com grande peso na sociedade portuguesa, Goulão assinala que o SICAD está atento e a procurar “mecanismos eficazes para o contrariar”.
Dos 5700 novos utentes que deram entrada nos serviços de saúde no ano passado, 1872 apresentavam problemas relacionados com o consumo de álcool, 1979 ligados a outras substâncias psicoactivas e 1817 pediram ajuda por causa de outras situações — “pais que procuram orientação para lidar com problemas em casa e jovens referenciados pelas comissões de protecção de crianças e jovens em risco”, referiu Goulão. Dados mais recentes, relativos a Setembro deste ano, permitem observar que há uma continuidade no número de novos utentes: 4381 novos casos entre Janeiro e Setembro, dos quais 34% correspondem ao consumo de drogas.
A cannabis é a droga mais consumida pelos novos utentes: cerca de 488 casos dizem respeito a esta substância, estando em evolução relativamente ao ano anterior. A cocaína e outras substâncias psicoactivas também registam um aumento, sendo que a heroína, embora surja como a segunda droga mais utilizada, é aquela que reflecte uma maior descida no consumo. A heroína está identificada com uma rápida degradação física e é a droga mais utilizada sobretudo pelas pessoas mais velhas, diz o director do SICAD.
Se o aumento do número de utentes atendidos poderá corresponder “a um indicador de eficácia e acessibilidade”, nas palavras de João Goulão, não deixa de ser preocupante o número de novos casos e aquele que corresponde às readmissões. Cerca de 4700 utentes foram readmitidos nos CRI durante o ano de 2012, sendo que destes 3897 estão ligados ao consumo de drogas e 2418 só de heroína.
O director-geral do SICAD sublinhou que o número de readmissões não corresponde directamente ao número de recaídas: “Sempre que um ex-toxicodependente sente que está em risco de voltar a consumir, procura ajuda nos nossos serviços”.
A crise poderá ter influência nos casos de recaídas. Embora existam inúmeros factores que poderão conduzir ao regresso ao consumo por parte de um ex-toxicodependente, as crises sociais e económicas e aquilo que arrastam atrás de si, como o desemprego e a estigmatização social, têm o seu peso no consumo de substâncias ilícitas. E a heroína, essa, é uma droga utilizada na “busca do alívio do desprazer”, ao contrário de outras drogas com fins recreativos como a cocaína.