Na região de Lisboa e Vale do Tejo quase não se fazem rastreios de cancro

Apesar de o número de novos casos de cancro continuar a aumentar, cirurgias diminuíram ligeiramente em 2012.

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Estimativas indicam que passaremos de cerca de 40 mil novos doentes (em 2010) para mais de 55 mil em 2030 Gonçalo Português/arquivo

Nos rastreios dos cancros de mama e do colo do útero, a cobertura era “residual” na região de LVT, enquanto no Centro e no Alentejo atingia já 100%. Mais atrasado, o Norte apresentava mesmo assim taxas de cobertura de 73% e 47%, respectivamente, enquanto o Algarve tinha uma taxa de cobertura de 100% no rastreio de cancro de mama e de 81% no do cancro do colo do útero. “As assimetrias regionais devem ser rapidamente eliminadas”, recomendam os autores do relatório. “É mais complicado organizar rastreios em centros urbanos”, justificou ao PÚBLICO Nuno Miranda, coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, que se mostra preocupado sobretudo com as lacunas do rastreio do colo do útero em LVT, uma vez que pode haver “uma selecção social negativa”, porque as mulheres de rendimento mais baixos vão menos ao médico.

Nas doenças oncológicas, o futuro não se afigura risonho, se não se apostar na prevenção: devido ao envelhecimento da população e à exposição a factores de risco, estima-se que os novos casos de cancro em Portugal continuem a aumentar a um ritmo acelerado.

As estimativas dos especialistas indicam que passaremos de cerca de 40 mil novos doentes (em 2010) para mais de 55 mil em 2030. Nos últimos anos, aliás, só no cancro do colo do útero é que se verificou uma diminuição dos casos tratados nos hospitais nacionais.

Outro problema destacado no documento é a ligeira redução do número de cirurgias oncológicas e o discreto aumento do tempo de espera (de 25 para 26 dias) dos doentes nos hospitais públicos, em 2012, uma inversão da tendência que se verificava desde 2006 e que carece de explicações. A este propósito, Nuno Miranda defende que a forma de financiamento poderia ser alterada, passando a pagar-se ainda mais por cirurgia oncológica ou penalizando os hospitais que deixem os doentes ultrapassar o tempo máximo de espera garantido.

Em sentido contrário, os tratamentos com radioterapia e quimioterapia aumentaram de forma “significativa” nos últimos anos, fazendo-se agora quase sempre sem necessidade de internamento, em “hospital de dia”.

No relatório, os especialistas chamam ainda atenção para as variações regionais nas taxas de mortalidade de alguns cancros. Por exemplo, no Norte e no sexo masculino, destaca-se a alta taxa de mortalidade por cancro de estômago, enquanto em Lisboa e Vale do Tejo o alerta vai para a elevada mortalidade precoce por cancro do cólon. Nas mulheres, há altas taxas de mortalidade por cancro de mama em Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve, comparativamente com as outras regiões do país. Na comparação a nível internacional, há boas notícias: temos menos casos de cancro de pulmão.

De resto, o documento assinala o “crescimento significativo da carga assistencial a doentes com cancro nos hospitais portugueses” e o facto de a maior parte dos doentes oncológicos (26.065, 67% do total) já estarem a ser operados em unidades que fazem mais de mil cirurgias por ano, ou seja, centros com diferenciação e experiência. Mesmo assim, os autores do documento notam que ainda há muitos hospitais (21) que realizam entre 100 a 499 intervenções anuais e que no ano passado dois ainda fizeram menos de 100 operações a doentes com cancro. Nestes casos, “terá de se reforçar a partilha de cuidados e modelos de colaboração entre instituições, promovendo afiliações onde se afigurar necessário”, recomendam. com Lusa

41.705 cirurgias oncológicas foram realizadas nos hospitais do SNS em 2012, menos 0,48% do que em 2011; em 2007 o número de cirurgias a doentes com cancro totalizara 32.527
 
3514 morreram em 2011 com cancro da traqueia, brônquios e pulmão; o cancro do cólon provocou a morte a 2668 pessoas nesse ano e o do estômago a 2364
 
372.634 sessões de radioterapia foram efectuadas em 2012
 
166 oncologistas médicos trabalhavam no SNS no ano passado, mas havia 147 internos desta especialidade
 
 

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