Só é pena que a ambição de Cuarón, que é capaz de arrancar alguns momentos realmente impressionantes da ausência de “gravidade”, não vá muito para além da conjunção do efeito especial de cortar o fôlego e da eficácia narrativa. Depois daquela abertura em que anda tudo (os actores, os objectos, a câmara) a bailar pelo espaço, em planos longos que denotam um sentido da coreografia que não tem sido habitual encontrar no grande espectáculo mainstream americano, Cuarón pensa que não tem outra forma de agarrar o espectador sem ser atulhar-lhe a cabeça com um sentimentalismo pesadão, investido a personagem de Sandra Bullock de tragédias pessoais de fazer chorar as pedras da calçada (o que ainda se perdoa), e enchendo a banda sonora de uma música enjoativa e irritantemente manipuladora (o que é imperdoável e quase lhe dá cabo do filme). Como é que alguém consegue encontrar os meios para filmar desta maneira o espaço sideral e depois afunda tudo numa historieta da carochinha astronáutica, eis algo difícil de engolir. Gravidade tem coisas que são do domínio da proeza, mas depois sai um 2001 de trazer por casa.
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