Prémio Sakharov entregue a Malala

Edward Snowden e um grupo de dissidentes políticos bielorrussos eram os outros nomeados para o prémio atribuído pelo Parlamento Europeu.

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Malala sobreviveu a uma tentativa de assassinato ordenada pelos taliban Peter Muhly/AFP

A escolha de Malala, de 16 anos, foi unânime entre os presidentes dos grupos parlamentares.

"O Parlamento Europeu saúda a força incrível desta jovem mulher", declarou o presidente Martin Schulz, através de um comunicado, citado pela AFP. "Malala defendeu com coragem o direito de todos os jovens à educação", um "direito muitas vezes negado às raparigas" em todo o mundo, acrescentou. O presidente do PE recordou ainda “que cerca de 250 milhões de raparigas no mundo não podem ir livremente à escola”, acrescentando que “o exemplo de Malala relembra-nos do dever e da responsabilidade de garantir o direito à educação das crianças. Este é o melhor investimento no futuro”.

“Hoje, decidimos dizer ao mundo que a nossa esperança por um futuro melhor está em jovens como Malala Yousafzaï”, disse o líder do Partido Popular Europeu (PPE, o maior grupo político do parlamento), Joseph Daul.

Também o líder dos Socialistas e Democratas (S&D, o segundo grupo), Hannes Swoboda, sublinhou que Malala é “uma jovem que arrisca a vida por valores e princípios em que ela, e nós, acreditamos: igualdade entre homens e mulheres e o direito à educação para todos”.

Entretanto, os taliban afirmaram que Malala "nada fez" para receber o prémio. "Ela nada fez. Os inimigos do Islão deram-lhe esse prémio porque ela abandonou a religião muçulmana para se converter ao laicismo", defendeu, em declarações à AFP, Shahidullah Shahid, porta-voz dos taliban paquistaneses.

Malala está também nomeada para o Prémio Nobel da Paz, que será anunciado na sexta-feira, prémio de que a própria não se considera merecedora, dizendo precisar ainda de trabalhar muito.

Baleada na cabeça pelos taliban
A paquistanesa tornou-se um símbolo da luta pelo acesso universal à educação, um direito recusado por aqueles que, como os taliban, querem impor uma versão radical da sharia (lei islâmica). A insistência de Malala em continuar a sua educação, à medida em que ia dando a conhecer ao mundo a sua luta através de um diário que mantinha para a BBC Urdu, fizeram da jovem um foco de rebelião que precisava de ser contido pelos fundamentalistas islâmicos, que a acusavam de veicular "propaganda ocidental".

Há um ano, um grupo de taliban lançou um ataque à aldeia paquistanesa de Mingora, no Vale de Swat, na fronteira com o Afeganistão, que tinha como objectivo assassinar a jovem. Dois homens armados entraram no autocarro escolar em que seguia a jovem e perguntam por ela. Malala levantou-se, identificou-se e foi alvejada de imediato na cabeça. Entre a vida e a morte, foi  levada para um hospital em Birmingham, Reino Unido. Ao fim de seis dias, Malala acordou, tal como o mundo acordou para a sua história.

Esta semana foi publicada uma autobiografia da jovem, "I am Malala Yousafzaï", traduzida em cinco línguas.

"Uma caneta pode mudar o mundo"
Malala, discursando na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, apelou ao acesso à educação para todas as crianças. “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação primeiro”, destacou a jovem, que usava um xaile que pertenceu a Benazir Bhutto, a primeira-ministra paquistanesa assassinada em 2007.

Em Abril, a activista inaugurou um fundo que visa garantir o acesso das jovens paquistanesas à educação. “Anunciar a primeira doação do Fundo Malala é o momento mais feliz da minha vida”, disse a jovem, na altura. “Permitam-nos que passemos da educação de 40 para 40 milhões de meninas.”

Malala vive em Inglaterra desde o ataque, mas pretende voltar ao Paquistão e dedicar-se à política e à defesa dos direitos das mulheres. No entanto, as ameaças dos fundamentalistas islâmicos continuam a ensombrar a vida de Malala, não se prevendo, para já, um regresso ao país natal. 

O Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento, no valor de 50 mil euros, foi atribuído, em 2012, ao cineasta Jafar Panahi e à advogada e activista Nasrin Sotoudeh, ambos iranianos.
Nelson Mandela e o dissidente soviético Anatoli Marchenko (a título póstumo) foram os primeiros galardoados, em 1988. Em 1999, o prémio Sakharov foi entregue a Xanana Gusmão (Timor-Leste) e, em 2001, a Zacarias Kamwenho (Angola).

Este galardão tem como objectivo premiar os defensores dos direitos humanos e dos valores democráticos.

A cerimónia oficial de entrega do prémio está marcada para 20 de Novembro, em Estrasburgo. A líder da oposição birmanesa, Aung San Suu Kyi, galardoada em 1990 quando se encontrava na prisão, vai receber o prémio dois dias depois.

Notícia actualizada às 12:44: Acrescentaram-se as declarações do porta-voz dos taliban paquistaneses.
 

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