Já começa a ser banal andarmos a culpar a internet por todo o mal que existe na sociedade moderna, mas uma das vertentes da questão tem andado a ser evitada, porque como todos sabemos a internet foi inventada para a pornografia. A pornografia online é precisamente a única coisa que impede o herói de Don Jon de se tornar num adulto exemplar: a sensação de que aquela queca perfeita com a mulher dos nossos sonhos nunca será possível no mundo real. E Jon, que o sabe muito bem, vai coleccionando as miúdas que gala nos bares de Jersey, tão descartáveis como os clips com os quais se masturba - até ao momento em que uma delas lhe dá com os pés e a realidade começa a fazer curto-circuito aos horizontes limitados do nosso galã.
A par da questão da internet, Joseph Gordon-Levitt actualiza neste Don Juan de subúrbio a ideia subjacente à "Febre de Sábado à Noite" (1977), em que por trás do glamour da pista de dança e do fatinho impecável se escondia a fuga à rotina, o desejo de ser alguém, de forjar um novo caminho. Tal como no filme de John Badham tínhamos uma espécie de “educação sentimental” para Tony Manero, aqui é Jon Martello que aprende os truques do coração às mãos de uma mulher mais velha, escondida pelo meio de uma comédia apenas aparentemente brejeira e sexual. Gordon-Levitt, um dos mais interessantes jovens actores americanos, tanto à vontade no universo de Gregg Araki como no de Christopher Nolan, encontrou o ponto ideal para as suas personagens, revela-se realizador atento, mais aos actores do que ao equilíbrio geral; o filme tem um óptimo controlo de tom e uma ideia de estilo bem trabalhada, mas o mesmo não se pode dizer do ritmo pára-arranca. Não é surpresa que um primeiro filme tenha falhas; a surpresa é que o resultado, longe de perfeito, pareça fresco e convincente, tenha ideias, presença e cabeça. O actor já nos convencera, o realizador merece que se fique de olho nele.