Não deixo de ficar perplexo com aquilo a que assistimos, ano após ano, no começo de cada ano escolar — opto por não utilizar a denominação "ano lectivo", porque ainda há muita gente sem professores, muitos professores sem emprego e muitas escolas sem aulas, logo, de lectivo, até agora, este ano tem muito pouco.
É preocupante que, em 2013, ainda se verifiquem casos como os que recentemente tenho visto.
Nos últimos dias, por exemplo, soube que, num país que se orgulha perante os seus parceiros europeus de ter uma educação inclusiva (onde se juntam crianças ditas "normais" com crianças com necessidades especiais, porque isto beneficia todas nos respectivos processos educativos), existem cerca de 400 crianças com necessidades educativas especiais que ainda não podem ir à escola, porque as mesmas não têm professores com as devidas competências para as acompanhar, fruto do já épico e cada vez mais ridículo processo de colocação de professores. É absolutamente inenarrável!
Conheci ainda o caso de um professor do ensino secundário que foi colocado numa escola a dar aulas ao 1.º ciclo... (calculo que estejam a franzir a testa tal como eu o fiz quando vi a peça na televisão). O "pobre diabo" viu-se forçado a uma readaptação coerciva e está dar aulas em três escolas diferentes, a turmas de 1.º e 2.º ciclos. As crianças do 1.º ciclo não lhe conseguem ler a letra que há muito deixou de ser redonda como todos a aprendemos! E deixou de ser redonda porquê? Não por desleixo, não por falta de competência, mas porque os alunos do ensino secundário não precisam de letra "da primária" para lerem o que lhes é escrito no quadro!
Mas isto ao pé da obrigatoriedade do Inglês no 1.º ciclo, convenhamos que pouco ou nada importará. Perdoe-se-me a tendência para a mesquinhice! O que não entendo é o porquê de não se acautelarem situações destas. Não consigo entender, não consigo mesmo! Porque é que ninguém se preocupa com o facto deste pobre homem não ter formação adequada para o fazer? E ninguém pensa que são as crianças quem paga a factura! Turmas com mais de 25 alunos, algumas com 45! E um professor...
Não estamos a falar do ensino universitário onde está quem quer e as aulas são muitas vezes leccionadas em auditórios com capacidade para mais de 200 pessoas. Este é o ensino obrigatório! Obrigatório para alunos e cada vez mais obrigatório e castrador para os professores! Ou seja, neste caso em particular, as crianças são então obrigadas a "aprender" com um professor do ensino secundário que se vê ele próprio a dar aulas a "putos" de oito anos...
Não menosprezando de modo algum o esforço hercúleo deste professor apaixonado de destino assim traçado e que tem o mesmo objectivo que todos nós, chegar ao fim do dia e ter pão para pôr na mesa. É assim, ou melhor, é uma tristeza, esta educação à portuguesa!