Papa confia nova tarefa aos guardas do Vaticano: combater a má-língua
Declaração pode ser sinal de que dissonâncias internas não acabaram.
“Peçamos a São Miguel [o arcanjo patrono dos guardas] para nos ajudar nesta guerra: a de nunca falar mal do outro, de nunca dar ouvidos às intrigas. E se eu perceber que alguém vai começar a fofocar, devo travá-lo! Devo dizer-lhe: aqui não pode ser: Saiam pela porta de Santa Ana [principal acesso ao Vaticano para funcionários e visitantes], vão lá para fora e continuem a má-língua lá fora”, afirmou o pontífice, segundo o relato da AFP.
“Não à discórdia”, disse também Francisco, explicando aos guardas que participavam na missa diária da capela da residência de Santa Marta que ninguém, nem mesmo ele, está vacinado contra aquele flagelo.
“Quero que defendam não apenas as portas e janelas do Vaticano, um trabalho necessário e importante, mas que defendam as portas do coração dos que trabalham no Vaticano, onde a tentação entra, tal como noutros lugares.”
É “uma tentação que agrada ao diabo, contra a unidade […] E ele procura criar a guerra interna, uma espécie de guerra civil e espiritual […] Uma guerra que se faz a linguagem”, disse também.
O pontífice estaria a aludir não apenas a intrigas que sempre existiram na Santa Sé mas também à fuga para a imprensa italiana de documentos confidenciais e de cartas enviadas ao seu antecessor, Bento XVI, no escândalo Vatileaks, no ano passado – a divulgação, por um mordomo, de documentos secretos sobre a existência de lobbies no interior do Vaticano, que motivou uma investigação interna.
A afirmação do Papa nesta altura é vista pela AFP como sinal de que a dissonâncias internas não acabaram. O seu estilo e os sinais que tem dado de querer reformas a Igreja suscitarão inúmeros comentários, nem sempre favoráveis, no interior do pequeno estado do Vaticano.