Andreas Johnsen, realizador "metade francês, metade dinamarquês", de 39 anos, está em Guimarães no 180 Creative Lab para partilhar a sua experiência enquanto realizador de documentários. Em conversa com o P3, na Plataforma das Artes, Andreas diz que não se considera um realizador e que faz filmes apenas porque gosta. Na verdade, considera-se um desempregado: "Eu não tenho trabalho, mas viajo muito e faço coisas em todo o lado".
"Talvez eu tenha uma ideia; talvez seja alguém que eu conheça. Uma música ou um amigo, que me diz porque é que não faço um filme acerca de alguma coisa […] na Jamaica ou em África. Normalmente, sou bastante aberto e se acho que é uma boa ideia, podemos fazê-lo", explica acerca da sua inspiração.
Andreas Johnsen é um autodidacta que trabalha de uma forma "muito intuitiva", que varia muito de um filme para outro. "Nunca andei numa escola de cinema. Por isso, não sigo nenhum manual", concluiu.
Paixão, intuição, curiosidade, paciência e desafiar-se constantemente são algumas das premissas que mantém para conduzir o seu trabalho. Porém, define-se como hiperactivo e desastrado porque, no dia-a-dia, não consegue estar parado num sítio, embora consiga ser paciente quando tem um objectivo muito claro.
"Ai Weiwei: A Fake Case"
O dinamarquês passou os últimos quatro anos na China a produzir o seu décimo documentário. "Ai Weiwei: a fake case" vai estrear, em Novembro, na sua cidade natal, num festival internacional de documentários, CPH:DOX.
É um retrato do "caso forjado" pelo Governo chinês contra o artista e dissidente político Ai Weiwei: "Tento mostrar o Weiwei como um ser humano", diz.
Numa "masterclass" no âmbito do 180 Creative Lab, no sábado, no Centro Cultural Vila Flor, Andreas Johnsen conta-nos que foi bastante complicado e perigoso lidar com a imprevisibilidade da actuação de Ai Weiwei. "Ele nunca me disse o que ia fazer, de todo. Nunca me deu um aviso... Quer dizer, às vezes ele dizia: Andreas, a polícia está a chegar, AGORA! Esconde-te."
"Eu acho que ele me estava constantemente a testar [...] se eu passasse todos os testes que ele me colocava, então, eu poderia fazer este filme", conta Andreas.
O realizador diz que nunca lhe seria concedida uma autorização pelo Governo chinês para filmar uma figura tão controversa como o artista e, por isso, nem sequer tentou conseguir uma. Tinha apenas um visto turístico, pelo que teve de filmar todo o documentário clandestinamente.
Confessa que não é agradável toda a tensão que existe ao acompanhar alguém como o artista chinês, mas é bastante compensador, porque no final conseguiu todo o material que queria para fazer o filme. "Todo este esforço compensou, claro! Quanto mais dificil é, mais divertido se torna quando és bem sucedido", concluiu.
Não tem nenhum tema favorito que goste de tratar, no entanto, admite que existe um denominador comum nos seus últimos trabalhos: a liberdade.
No final de Outubro, terá no Doc Lisboa, na secção Heart Beat, o seu documentário "Kidd Life" sobre a vida do "rapper" dinamarco-escocês Kidd.