Irão oferece-se para "facilitar o diálogo" entre Assad e os rebeldes sírios
Damasco diz que guerra está num "impasse" e admite apresentar proposta de cessar-fogo no âmbito de uma conferência de paz, mas impõe condições.
Entrevistado pelo jornal britânico The Guardian, o vice-primeiro-ministro Qadri Jamil, responsável pela pasta das Finanças, disse que nenhuma das partes em conflito está em posição de vencer no campo de batalha e que a economia do país está numa situação “catastrófica”.
“Nem a oposição armada nem o regime têm capacidade para derrotar o lado oposto. Este equilíbrio de forças não vai sofrer alterações nos próximos tempos”, afirmou o ministro.
Na eventualidade de se realizar uma conferência para a paz em Genebra, na Suíça — uma proposta que já foi adiada e retomada no âmbito do acordo para a destruição do arsenal químico do regime sírio, no fim-de-semana passado —, Qadri Jamil disse que, a ser aceite pela oposição, um cessar-fogo teria de ser regulado internacionalmente por uma força de manutenção da paz coordenada pelas Nações Unidas.
Como seria de esperar, a proposta do regime sírio implica várias condições: "O fim de uma intervenção armada externa, um cessar-fogo e o lançamento de um processo político pacífico que permita ao povo sírio desfrutar da autodeterminação sem uma intervenção e de forma democrática."
Novas críticas à ONU
Os EUA e a Rússia comprometeram-se a voltar a discutir a possibilidade da realização de uma conferência de paz, depois de nenhum dos lados ter chegado a acordo sobre as partes que devem ter assento na mesa de negociações — Washington quer a presença de um grupo de 11 países europeus e árabes, todos defensores da saída do poder de Bashar al-Assad; e a Rússia exige a presença do Irão.
A Coligação Nacional Síria, reconhecida pelos EUA como principal representante da oposição, continua a impor como condição para a realização de uma conferência de paz a deposição de Assad.
Mas o vice-primeiro-ministro frisou que ninguém pode estar à espera de uma mudança de regime na Síria. "Para cumprirmos as nossas reformas progressivas, precisamos que o Ocidente e todos os que estão envolvidos na Síria saiam de cima dos nossos ombros", afirmou.
Na entrevista ao jornal britânico, Qadri Jamil criticou o relatório dos inspectores da ONU sobre o ataque com armas químicas nos arredores de Damasco, a 21 de Agosto, considerando que "não foi completamente objectivo".
Segundo o ministro, os inspectores identificaram os rockets usados no ataque como tendo sido fabricados na Rússia, mas afirma que foram exportados para o país na década de 1960. "Foram carregados com químicos por Khadafi e exportados para os fundamentalistas na Síria após a queda de Khadafi", afirmou.
Síria, "uma jóia da civilização"
Também na quinta-feira, o Presidente do Irão, Hassan Rouhani, escreveu um artigo de opinião no jornal norte-americano The Washington Post, no qual se compromete a cumprir as promessas que fez ao seu povo, "incluindo o início de uma interacção construtiva com o mundo". Para o recém-eleito Presidente, "a mentalidade da Guerra Fria é prejudicial para todos".
Em relação à Síria, afirma que o país — "uma jóia da civilização" — "tornou-se num palco de uma violência desoladora, incluindo ataques com armas químicas", que diz "desaprovar com veemência".
"A minha abordagem em relação à política externa tem como objectivo resolver os assuntos indo às suas causas subjacentes. Temos de trabalhar em conjunto para pôr fim às rivalidades e interferências que alimentam a violência e nos afastam. Temos também de prestar atenção ao tema da identidade como um impulsionador decisivo da tensão no Médio Oriente e para além dele", escreve o Presidente iraniano.
Para tal, Hassan Rouhani junta as palavras aos actos e deixa um compromisso: "Declaro que o meu Governo está pronto para ajudar a facilitar o diálogo entre o Governo sírio e a oposição."