Olivier Py quer fazer de Avignon um festival mais popular, com mais política e mais poetas

Novo director diz que falta público jovem àquele que é um dos festivais de teatro e dança mais importantes do mundo.

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Olivier Py apresenta a sua primeira programação do Festival de Avignon na Primavera Boris Horvat/AFP

Lembrando que se estreou em Avignon, no festival Off, em 1985, sendo aí “consagrado” – a expressão é dele – com a peça La Servante (de que era autor, encenador e intérprete) dez anos depois, o sempre provocador Olivier Py mostrou-se confiante nas suas novas funções, dizendo que não há grandes diferenças entre programar um festival de prestígio e uma grande instituição como o parisiense Odéon – Théâtre de l’Europe, cuja direcção deixou em 2011: “Tinha uma vintena de espectáculos no Odéon, serão uns 30 em Avignon. Para mim é quase o mesmo. Tanto num posto como noutro não há lugar para a vida pessoal, mas há espaço para a criação artística."

Respondendo à pergunta sobre os riscos de ter um artista como director e sobre a eventual dificuldade de programar os seus pares, Py foi claro: “Creio que é uma opção muito política a de colocar artistas à frente de grandes instituições porque eles garantem uma outra relação com o público e os seus pares. Acho muito fácil programar os meus pares porque me é muito fácil amar outros artistas.”

E é com uma programação baseada em artistas cabeças-de-cartaz e em jovens talentos que Py se propõe pôr em marcha o seu objectivo – o de tornar o festival mais popular. Mais popular em que sentido?, perguntou-lhe o Monde. Aí o encenador foi vago: “Fazer teatro popular é tocar as pessoas que estão interessadas na vida do espírito. Não podemos sonhar: o teatro não se dirige a toda a sociedade.”

Para tornar o festival mais acessível, o novo director disse já que pretende baixar o preço dos bilhetes com descontos, em particular as tarifas que se destinam ao público mais jovem que, na sua opinião, vai ainda muito pouco a Avignon. O preço médio de bilhete ronda os 25 euros. Para reduzir os custos Py conta programar menos espectáculos mas aumentar o número de apresentações de cada um, prolongando o festival para que abranja quatro fins-de-semana em Julho de 2014 (o que não significa um festival de quatro semana, frisou).

Outro número que o dramaturgo e encenador pretende fazer subir é o dos debates e encontros com o público, envolvendo os artistas que integram a programação, tudo para garantir que a “palavra política” se faz ouvir no festival. Sem avançar muitos nomes, Olivier Py disse ainda que, a cada ano, gostaria de ter cerca de 20 a 30% de criadores conhecidos a assegurar o eixo central da oferta artística, que dará muito mais espaço aos “emergentes” e aos poetas, “vivos e desaparecidos”.

Py vai ainda transpor para Avignon o programa Citizen Stages, que desenvolveu no Odéon e que se alimenta sobretudo do teatro europeu. É nesse âmbito que Py avança que os nomes das encenadoras Gianina Carbunariu e Emma Dante. Para entrar noutros territórios, como a Ásia e a América Latina, o novo director conta com uma colaboradora de longa data, Agnès Troly.

Ao Monde, Py garantiu que o papel de director não apagará os seus impulsos criativos, e para o provar revelou ter reservado para si um espaço nas programações de 2014 e 2015.

Para o ano a abertura do festival, na icónica Cour d’honneur, o grande pátio medieval do palácio dos Papas, será assegurada por Le Prince de Hombourg, um texto do início do século XIX de Heinrich von Kleist, numa encenação do italiano Giorgio Barberio Corsetti. Do programa de 2014, que será totalmente divulgado na Primavera, fazem ainda parte Hyperion, do poeta alemão Friedrich Hölderlin, e Mai, juin, juillet, do dramaturgo francês Denis Guénoun.

Olivier Py veio substituir Hortense Archambault e Vincent Baudriller, que asseguraram a direcção do festival nos últimos dez anos. Avignon despediu-se deles no fim da última edição, com dez minutos de aplausos.

 
 
 

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