Conto de fadas

Se fosse preciso explicar alguns dos factores que andam a fazer tanta falta ao cinema de terror moderno e às suas tendências mais ou menos sanguinárias, o australiano James Wan seria um dos melhores professores. Mesmo apesar de se lhe dever a série Saw (foi ele quem dirigiu o primeiro episódio), Wan tem-se afincado a provar que o melhor cinema de terror sabe como usar a sugestão, a caracterização e o ambiente. Depois de Insidioso (2010, cuja sequela chega daqui a poucas semanas), e antes de se entregar ao sétimo episódio da série Velocidade Furiosa, o cineasta confirma o seu estatuto de especialista em viagens no comboio fantasma com esta Evocação que segue na linhagem de casas assombradas do seu predecessor, a meio caminho entre o Poltergeist de Spielberg e Amityville, aqui inspirando-se num caso verídico e em personagens que existiram na realidade. O que interessa a Wan, na verdade, é antes o modo como estes desafios sobrenaturais celebram a força do núcleo familiar contra uma ameaça externa, o que lhes dá também uma dimensão de filme dos anos-1980, de conto de fadas assustador. A Evocação tem, além disso, uma evidente mais-valia no excelente elenco, com destaque para as grandes Vera Farmiga e Lili Taylor a criarem personagens e não meros bonecos dispensáveis. Se a maioria do cinema que por aí se vê - e não só de terror... - tivesse a modéstia, a eficácia e a inteligência deste filme, talvez as coisas não andassem tão por baixo.

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