Estaleiros do Mondego optimistas na recuperação da actividade naval

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PÚBLICO

"Não só estou optimista, como o optimismo está reforçado em função das circunstâncias. Estabilizámos a nossa situação em termos de estaleiro, de corpo accionista e de recursos financeiros", declara Joaquim Peres, administrador dos ENM.

Recentemente, dois novos investidores entraram no capital dos estaleiros: o sócio maioritário, com 46,67%, é uma empresa ligada a Rui Alegre – o empresário que, recentemente, adquiriu quatro navios de cruzeiro portugueses que estavam arrestados em portos europeus, incluindo o paquete Funchal –; enquanto a First Link, de João Moita, detém 33,33% dos ENM.

Joaquim Peres e Carlos Costa, os dois sócios da Atlanticeagle Shipbuilding, empresa que em Setembro de 2012 ganhou a concessão dos estaleiros por 20 anos, detêm 9% cada e os restantes 2% estão na posse dos antigos proprietários da infra-estrutura.

"São empresas ligadas não propriamente à construção e reparação naval, mas à gestão técnica de navios e gestão de tripulações. O nosso maior sócio tem um dinamismo espectacular e vê as grandes vantagens que este sector da economia ligada ao mar tem em Portugal", frisou Joaquim Peres.

Até agora, os estaleiros, que possuem cerca de 40 trabalhadores, apenas trabalharam na construção da cobertura de um tanque para gás natural, realizada em 16 módulos envolvendo 600 toneladas de aço, que teve como destino a Noruega, tendo reformulado o plano para 2013, que previa um volume de negócios de cinco milhões de euros, e apontando agora para cerca de três milhões.

De acordo com o responsável, os ENM estão a negociar um primeiro contrato de construção naval, uma embarcação de pesca para um país africano, e têm vindo a fazer a recuperação, manutenção e certificação dos equipamentos que possuem.

No entanto, de acordo com Joaquim Peres, debatem-se com um problema de assoreamento do rio Mondego à entrada das suas instalações, "em vias de resolução" com a administração portuária: "Há um problema na margem sul, o canal devia ter cinco ou seis metros e chega a ter só dois. Tivemos uma barcaça com 2,8 metros de calado que nem com a maré mais alta conseguiu entrar", frisou.

Rui Paiva, da Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF), confirmou o assoreamento e que a sua resolução já foi assumida pela APFF, mas alegou que, até à data, a situação não colocou "qualquer problema" aos estaleiros. "A verdade é que, até ao momento, nunca foi suscitada a sua necessidade. Não há evidência documental de qualquer contrato que tenha sido posto em causa pelo assoreamento", argumentou. Já sobre a questão financeira dos estaleiros, nomeadamente a garantia bancária de 100 mil euros que era devida à infraestrutura portuária, Rui Paiva disse que já foi regularizada.

Também a dívida de 500 mil euros à comissão de credores foi regularizada, com pagamento de uma primeira tranche de 200 mil euros e o valor restante em duas prestações, e os salários dos trabalhadores estão em dia, embora os ENM possuam "algumas rendas" (decorrentes do contrato de concessão) em atraso e tenham proposto o "reajuste" do valor da anuidade, cifrado em 330 mil euros.

Já sobre a actividade dos ENM, o administrador portuário não esconde "alguma preocupação" sobre a retoma da construção e reparação naval: "Percebemos que ainda há um conjunto de dificuldades na dinamização dos estaleiros. Acabado que foi o trabalho [dos tanques para a Noruega], não é visível mais actividade nenhuma", frisou Rui Paiva.