Nova Iorque pisca os olhos a Bill de Blasio e arrasa Anthony Weiner

Primárias para mayor da cidade colocam de Blasio à frente entre os candidatos do Partido Democrata. Joseph Lhota vai disputar as eleições de 5 de Novembro como candidato do Partido Republicano.

Foto
De Blasio foi acusado de explorar a imagem da sua família com fins eleitorais Mario Tama/AFP

No final de uma campanha marcada por acusações duras, escândalos e reviravoltas nas sondagens, os nova-iorquinos escolheram na terça-feira os candidatos à nomeação pelo Partido Democrata e pelo Partido Republicano, que irão enfrentar-se nas eleições de 5 de Novembro. Só nesse dia será conhecido o sucessor de Michael Bloomberg, mayor de Nova Iorque há 12 anos, eleito pelo Partido Republicano em finais de 2001 e que se tornou independente a partir de 2007.

Numa cidade em que o eleitorado está inscrito em peso no Partido Democrata, e que parece estar cansado de 20 anos de liderança republicana — Rudolph Giuliani foi mayor antes de Michael Bloomberg, entre 1994 e 2001 —, Bill de Blasio apresentou-se como o candidato mais à esquerda, muito crítico dos últimos anos da governação de Bloomberg.

Com mais de 95% dos votos contados, a vitória de Bill de Blasio está assegurada, mas ainda não é certo se o candidato obteve os 40% necessários para evitar uma segunda volta com Bill Thompson, que surge em segundo lugar com 26%. De Blasio tem precisamente 40%, mas o The New York Times avança que a contagem final dos votos poderá demorar mais alguns dias.

No lado do Partido Republicano, o candidato mais votado foi Joseph Lhota, presidente da agência que gere os transportes públicos de Nova Iorque em 2012 (de onde saiu para se concentrar na campanha eleitoral) e antigo vice-mayor de Rudolph Giuliani.

Lhota bateu o seu principal rival entre os candidatos republicanos, John Catsimatidis (um milionário nascido na Grécia e dono da maior cadeia de supermercados de Manhattan, a Gristedes), mas terá muitas dificuldades para vencer Bill de Blasio nas eleições que vão decidir quem será o próximo mayor de Nova Iorque.

Contra a actuação da polícia e as desigualdades económicas
A vitória de Bill de Blasio nas primárias do Partido Democrata não foi uma surpresa se se tiver em conta apenas as duas últimas semanas de campanha, mas em meados de Julho o provável sucessor de Michael Bloomberg não aparecia sequer entre os três favoritos.

Depois da queda em desgraça de Anthony Weiner — que terminou as eleições de terça-feira com apenas 5% dos votos —, Bill de Blasio tem conquistado os nova-iorquinos com o seu discurso de corte com o passado. Os seus alvos principais são a actuação da polícia da cidade, gerida com mão de ferro pelo comissário Raymond W. Kelly há 12 anos, e a desigualdade económica entre a população.

Uma mensagem bem recebida por grande parte dos eleitores. "Gosto da mensagem dele sobre a existência de duas cidades, de uma enorme desigualdade. Agora podemos começar a corrigir muitos dos problemas importantes com que a cidade se debate, muitas vezes ignorados pela administração Bloomberg", disse Jelani Wheeler, uma estudante de 19 anos, ao The New York Times, jornal que declarou o seu apoio à candidata Christine Quinn, uma democrata muito associada a Michael Bloomberg — como speaker, é a sua actual número dois e teve um papel importante na extensão do limite de mandatos de dois para três, o que possibilitou a reeleição de Bloomberg em 2009 (os nova-iorquinos acabaram por reverter esta medida nas urnas, em finais de 2010).

"Sinto que posso confiar nele e que ele não faz parte do mesmo quadro de trabalho de Bloomberg, como [Christine] Quinn", disse à agência Reuters Casey Palmer, uma nova-iorquina de 27 anos.

Mas nem de Blasio escapou à dureza da campanha no lado do Partido Democrata, sendo acusado pelos adversários de explorar a sua família com o objectivo de obter mais votos. Casado com Chirlane McCray, uma activista e poetisa negra, que se assumiu como lésbica aos 17 anos de idade, o norte-americano de ascendência italiana foi alvo de críticas depois da publicação de um vídeo de campanha com declarações do seu filho de 15 anos, Dante.

Anthony Weiner, o "mensageiro imperfeito"
Juntamente com Christine Quinn — que chegou a liderar as sondagens, mas que acabou em terceiro nas primárias do Partido Democrata —, o grande derrotado foi Anthony Weiner.

No discurso que proferiu após o encerramento das secções de voto, o antigo congressista não teve ao seu lado a mulher, Huma Abedin. Mas entre as pessoas que ouviram Weiner admitir que tinha sido um "mensageiro imperfeito" das "melhores propostas" estava Sydney Leathers, a mulher de 22 anos com quem o candidato trocou mensagens e fotografias de conteúdo explícito em Abril, num caso que foi tornado público em finais de Julho — um comportamento reincidente, que já o tinha forçado a pedir a demissão do Congresso em 2011.

"Estou aqui para comemorar o seu fim iminente. […] Quer dizer, eu não tenho muita moral para falar, mas ele precisa de ajuda", disse a jovem à agência Reuters.

O próximo mayor de Nova Iorque será escolhido nas eleições de 5 de Novembro. Se se confirmar a vitória de Bill de Blasio com mais de 40% nas primárias, o candidato do Partido Democrata irá disputar o cargo com o republicano Joseph Lhota.

Sugerir correcção
Comentar