De Utoya para o Parlamento, a vingança de um sobrevivente de Breivik

Fredric Holen Bjoerdal estava no acampamento da Juventude Trabalhista que o extremista de direita atacou em 2011. Dois anos depois foi eleito para o Parlamento

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Bjoerdal diz que não está no Parlamento por causa do massacre em Utoya AFP

“Muitos abandonaram a polícia após o massacre de Utoya. Eu escolhi continuar a lutar pelos que morreram e os que não podem continuar a fazê-lo”, explica o jovem em voz clara e pausada. “Se toda a gente parasse, isso significava a vitória de Breivik e a nossa derrota”, acrescenta.

A 22 de Julho, o extremista de direita Anders Behring Breivik, armado com uma metralhadora semi-automática e uma pistola, perseguiu durante mais de uma hora centenas de adolescentes reunidos na ilha de Utoya para o habitual acampamento de verão da Juventude Trabalhista. Breivik explicou depois que queria secar o viveiro de recrutamento do Partido Trabalhista, o principal culpado, segundo ele, por o país ter aderido ao multiculturalismo. Presos numa ilha de 0,12 km2, 69 pessoas perderam a vida, a maioria adolescentes.

“Sobrevivi correndo de uma ponta à outra a ilha para me esconder dele e das suas balas”, recorda Fredric Holen Bjoerdal. “Tive muita sorte. Quando se vê as balas cair na água junto a nós sabemos que é apenas uma questão de centímetros.”

Mas o viveiro não secou. Nas legislativas de segunda-feira, o jovem, que até agora trabalhava para os serviços sociais apoiando adolescentes em dificuldades, foi eleito por uma circunscrição encravada entre um fiorde e o mar, no Oeste da Noruega. Nas listas trabalhistas, apesar do revés eleitoral sofrido pela esquerda.

“Não acredito que Utoya tenha tido alguma coisa a ver com a minha entrada na lista”, diz o novo deputado. “Fiz questão de não construir a minha identidade enquanto sobrevivente de Utoya. Não é uma identidade política que eu desejaria.”

Dos 33 sobreviventes do massacre que se apresentaram às eleições, quatro foram eleitos. Estranhamente, a carnificina esteve totalmente ausente da campanha.

“Não é bom falar disso. Seriamos rapidamente acusados de querer explorar o 22 de Julho para retirar benefícios políticos”, comenta Fredric Holen Bjoerdal. “Tudo é demasiado recente, demasiado doloroso.”

Entre os vencedores das eleições está o Partido do Progresso, uma formação populista anti-imigração de que Breivik foi membro até 2006, mas que condenou claramente o autor dos ataques. Apesar de reduzir a sua votação, o partido está bem colocado para sair da oposição a que está confinado desde a sua fundação, há 40 anos, para participar numa coligação dominada pelos conservadores.

“Desde o 22 de Julho, discutimos tudo o que não funcionou naquele dia: a polícia os dispositivos de alerta. Mas falamos menos dos valores e dos pontos de vista extremistas de Breivik”, observa Fredric Holen Bjoerdal. “Acreditámos que o apoio a uma sociedade multicultural seria mais forte depois disso, mas tudo regressou à normalidade”, diz.

E ter o Partido do Progresso no Governo. “Não gosto. Não quero traçar paralelos entre o partido e o Breivik. Ele era muito mais extremista”, sublinha. “Mas é claro que se um tal partido chega ao poder e tem voz nas matérias de imigração ou em outros domínios, vamos ver isso com mãos olhos”, explica.

Com apenas 23 anos, este jovem será um dos mais novos no Parlamento que abrirá portas no próximo mês. “Quero trabalhar no duro, provar que estou lá por boas razões, que tenho conhecimentos e alguma coisa a acrescentar.”
 

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