Candidato ao Óscar de melhor filme estrangeiro, o filme da dupla norueguesa Joachim Rønning e Espen Sandberg recria a viagem do explorador Thor Heyerdahl do Peru até à Polinésia em 1947, numa jangada sem propulsão de espécie nenhuma, a fim de provar uma teoria científica em que ninguém acreditava. Desenvolto e bem construído, é o exemplo perfeito de um certo “cinema do meio”, de uma produção corrente profissional e inteligente que parece existir cada vez menos - e que, neste caso específico, consegue até “redimir” o conceito de “europudim”, visto ser uma co-produção escandinava com dinheiros alemães e com o britânico Jeremy Thomas, produtor regular de Bertolucci ou Skolimowski. Tem qualquer coisa de “filme à moda antigo”, de aventura clássica como era pensada nos anos de ouro de Hollywood, bem servido pela fotografia deslumbrante de Geir Hartly Andreassen.
Só é pena que, para lá disso, Kon-Tiki acabe por sofrer de um certo anonimato tarefeiro, uma ausência de personalidade, como se lhe bastasse ser um espectáculo acima da média a pensar num público que não se revê nos blockbusters futuristas ou de super-heróis. Mas isso, hoje em dia e face à tristeza da maior parte do que chega às salas, ainda é qualquer coisa de interessante - e acaba apenas por sublinhar o seu lado “fora de tempo”, de filme “à moda antiga”.