Não é surpresa que "Apenas o Vento" tenha saído de Berlim 2012 (vencido por César Deve Morrer, dos irmãos Taviani) com o Grande Prémio do júri presidido por Mike Leigh: é um exemplo perfeito do filme de cariz social que o festival alemão gosta de defender, abordando a situação da etnia cigana na Hungria a partir de um caso verídico de ataques anónimos a comunidades romani. Fá-lo, contudo, de um modo diferente do habitual: Bence Fliegauf, igualmente argumentista, cenógrafo e co-responsável pelo design sonoro, concentra-se num dia normal de uma família cigana e desenha um retrato sensorial de uma vida precária, de um quotidiano em permanente angústia, sempre à beira do abismo, sempre à espera que o pormenor mais pequeno desencadeie uma manifestação de xenofobia.
Enquanto Apenas o Vento é essa angústia surda de estado de guerra latente, de conflito à beira da explosão, Fliegauf consegue criar empatia com a vida de uma minoria perseguida (cigana no caso, mas aplicável a qualquer outra). Mas essa abordagem sensorial, oblíqua, dá-se mal com a vontade de passar uma mensagem de tolerância, de erguer um espelho cruel a uma sociedade supostamente civilizada, resultando num filme a dois tempos que nunca se cruzam a contento. É como se Fliegauf não confiasse a cem por cento nas suas próprias capacidades de cineasta para transmitir a mensagem de modo subterrâneo, e sentisse que tinha de a sublinhar a traço grosso (mesmo que o final fortíssimo redima o que de menos interessante ficou para trás).