Setembro é o grande mês. Os 4 Bicas Cervejeiros já estão em actividade, mas a laboração oficial vai iniciar-se agora. Daniel, Luís, Manuel e Mário têm a cerveja Mártir pronta a vender. Na pequena cozinha regional em Alfândega da Fé o trabalho já começou há vários meses. Cheira a cereal cozido e há um suave manto de névoa a cobrir o espaço. É preciso esperar algum tempo para que se comece a sentir no ar a doçura daquele que é o ingrediente que, aqui se espera, faça a diferença no mercado: a cereja.
“Entendemos que seria um bom motivo empreender também neste sector, explorando o mercado das fruit beer, já que Trás-os-Montes tem produtos de excelência que podemos aproveitar.” Falam da cereja e, olhando para os quatro jovens naturais de Alfândega, percebe-se que a ligação à terra está presente em todo o processo, desde o produto “ex-líbris do concelho” e, portanto, “uma mais valia”, ao nome da cerveja: Mártir, em alusão às festividades da vila.
Formados em áreas distintas que vão da Psicologia à Engenharia, passando pela Saúde Pública e pelo Desenho, foi sobretudo de forma autónoma que adquiriram conhecimento de produção de cerveja artesanal: “Todo o processo foi aprendido através do estudo e da consulta. Foi um processo auto-didacta de aprendizagem, que demorou algum tempo e que culminou na realização de pequenas experiências.” Experiências que resultaram em quatro tipos de cerveja que, para além da cereja, incluem produtos regionais como o mel e as ervas aromáticas.
O regresso a casa
Nesta cozinha regional há a crença de que o Nordeste “será um pólo importante de investimento”. “As distâncias para o litoral foram diminuídas pelas acessibilidades, tornando os territórios do interior mais acessíveis e apetecíveis ao investimento”. Falam do futuro e, por isso, resolveram deixar a cidade e regressar a casa, porque “o Nordeste Transmontano está agora mais aberto". "O que faz com que todos os diversos recursos que por aqui existem possam ser explorados”.
A Mártir é a sexta marca de cerveja artesanal a surgir em Portugal. Junta-se à Sovina, à Vadia, à Rolls Beer, à Letra e à Maldita. Do interior para todo o país, os 4 Bicas Cervejeiros querem fazer da Mártir um produto que represente Trás-os-Montes e explicam: “Tendo em conta que o Nordeste Transmontano foi em tempos um dos maiores produtores de cereais e lúpulos, alguns dos ingredientes da cerveja, entendemos que a cerveja possa ser um produto que caracteriza esta região.”
Para além das participações em eventos culturais do território, os 4 Bicas Cervejeiros foram distinguidos com o Prémio EDP Empreendedor Sustentável Sabor. Frisam que na Mártir “não são adicionados quaisquer ingredientes químicos, conservantes ou corantes. Todos os ingredientes são naturais”. A meta da Mártir está delineada. Os 4 Bicas Cervejeiros querem aumentar a produção e abandonar esta cozinha regional dentro de 3 anos e mudar para uma unidade industrial, mas não abandonando os montes transmontanos.
Artigo corrigido (foi alterado o número de marcas de cerveja artesanal em Portugal)