Fuga dramática de senador boliviano acaba com demissão de MNE brasileiro
Antonio Patriota é afastado na sequência de tensão com Bolívia por fuga de senador boliviano com ajuda de diplomata brasileiro.
A saída foi anunciada de modo curto e seco num comunicado da Presidente Dilma Rousseff, que nomeava já o seu sucessor, Luiz Alberto Figueiredo. Patriota será agora o embaixador do Brasil nas Nações Unidas.
Mas o caso que deu origem a esta demissão é tudo menos curto e seco: é a história de uma fuga dramática pela noite fria de La Paz de um senador que a Bolívia acusa de corupção e a quem o Brasil tinha concedido estatuto de refugiado.
O caso envolve um político boliviano, Roger Pinto, que estava há 452 dias na embaixada brasileira na capital, La Paz. Tinha pedido asilo ao Brasil depois de ele e a família terem recebido ameaças de morte. Pinto, membro de um pequeno partido de direita, tem acusado o executivo de Evo Morales de corrupção. O Governo da Bolívia devolve a acusação e diz que Pinto é que é corrupto – procurando-o para ser julgado – e classificou o pedido de asilo como uma campanha contra Morales.
O Brasil concedeu asilo ao político já em 2012, mas a Bolívia não reconheceu o estatuto e não deixou o senador sair.
Na última sexta-feira, aproveitando uma noite fria e chuvosa, que terá afastado os vigilantes bolivianos da embaixada brasileira, Pinto saiu, num carro oficial, acompanhado por outro veículo com militares brasileiros. Fez uma viagem de 22 horas – 1600 quilómetros – até à cidade brasileira de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Daí, seguiu de avião para Brasília.
O diplomata responsável pela fuga, Eduardo Saboia, diz que “ouviu a voz de Deus” para retirar o senador da embaixada: “"Havia uma violação constante, crónica, de direitos humanos, porque não havia perspectiva de saída, não havia negociação em curso e havia um problema de depressão que estava se agravando”, declarou Saboia. “Tivemos que chamar um médico e ele começou a falar de suicídio”, acrescentou.
O diplomata, entretanto afastado do cargo, também comparou a situação de perseguido do boliviano à da Presidente Dilma Rousseff, quando estava na oposição à ditadura militar brasileira.
“Não me arrependo e aceito as consequências”, acrescentou. “Fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história”.
A fuga de Pinto deixou o Governo de Morales furioso. O facto de ter sido conduzida por um diplomata sem o conhecimento do ministro deixou por outro lado Patriota numa situação difícil. A demissão resolveu ambos os problemas.
O jornal brasileiro Folha de São Paulo apontava que a relação entre a Presidente e o ministro Pariota vinha já a deteriorar-se, e num comentário, o redactor principal Clóvis Rossi argumentava que sacrificar o ministro para aplacar a ira boliviana tinha sido “exagerado”.