Detectadas duas novas zonas de alta radioactividade em Fukushima
Não foram encontradas novas fugas de água, mas antes indícios de que o problema está espalhado
Junto a dois reservatórios diferentes, e distantes do local onde tinha sido detectada a fuga de 300 toneladas de água radioactiva na segunda-feira, foram esta madrugada medidos 70 millisieverts por hora e 100 millisieverts por hora. Um trabalhador exposto a estes níveis de radioactividade absorveria numa hora mais do que a dose autorizada num ano, no primeiro caso, e o máximo permitido durante cinco anos, no segundo, de acordo com a lei japonesa, explica a AFP.
Mas não foram encontradas poças de água, nem se notaram mudanças no nível de água dos tanques de mil litros mais próximos, assegura a Tokyo Electric Power Co (Tepco). Isso não quer dizer que não tenha havido fugas de água radioactiva. Simplesmente poderá ter acontecido há mais tempo, e não ter sido detectada antes.
Foi isso que se terá passado com a fuga detectada na segunda-feira, e que fez a Autoridade de Regulação da Energia Nuclear japonesa declarasse na quarta-feira um incidente de nível 3 na central de Fukushima, que sofreu um acidente nuclear de nível 7 (o máximo da escala) em Março de 2011, na sequência do sismo e tsunami que atingiu o nordeste do Japão.
A confirmação da fuga de 300 toneladas de água – após outras fugas igualmente graves – levou a autoridade nuclear japonesa a considerar que a Tepco não está a conseguir lidar com os problemas da central nuclear acidentada. O que nunca seria tarefa fácil: a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) tinha estimado que seriam necessários pelo menos 40 anos para tirar do local reactores que entraram em fusão e todo os bastões de combustíveis usados. Alguns especialistas calculam que será preciso um século até limpar completamente o local.
Um problema imediato é a água: é usada para arrefecer os reactores, e as barras de combustível, e é armazenada nestes tanques de mil toneladas, para não ser atirada ao mar. Há pelo menos mil destes reservatórios, e todos os dias a central liberta mais 400 toneladas de água. Os reservatórios estarão a 85% da sua capacidade. “Estão a lidar com quantidades absolutamente gigantescas”, comentou à BBC Mycle Schneider, um especialista em energia nuclear que aconselhou vários países, entre os quais a França e o Reino Unido e é o principal autor dos relatórios World Nuclear Industry.
"Não há maneira de conter toda esta água radioactiva. Quando chega aos lençóis freáticos no solo, não se consegue travar o fluxo. É como um rio a fluir para o mar”, comentou também com a BBC Ken Buesseler, do Instituto Oceanográfico Woods Hole (Massachusetts, EUA), que tem estudado as águas de Fukushima.