Ricardo Silva: família e amigos em primeiro lugar
Este dentista de 28 anos poderia ter ido para Angola. “É óbvio que estava muito melhor a nível financeiro. Mas isso não é tudo o que conta, também o lado pessoal conta nesta escolha”, diz
Foi numa esplanada na praia de Salgueiros, em Gaia, que nos encontramos com Ricardo Silva, dentista de 28 anos, que vive ali mesmo, na freguesia de Canidelo. Há um ano, quando acabou o curso, Ricardo sabia que emigrar era uma hipótese, caso não conseguisse encontrar emprego em Portugal, mas seria a sua última opção, porque “o lado pessoal conta bastante” nesta escolha.
“Já no último ano da faculdade começamos a sentir a necessidade de emigrar, pelo estado do mercado em Portugal”, refere Ricardo Silva ao P3. Com ele não foi diferente, quando finalizou a sua formação em medicina dentária respondeu a “centenas de propostas” para Portugal, “de Norte a Sul”. Preferia ficar no país e mudar de cidade a ter de emigrar.
Só respondeu a duas ofertas de emprego para fora, uma em África e outra na China. “De todos os anúncios que concorri, a primeira resposta que obtive foi mesmo para Luanda, Angola”, conta. Uma semana depois, foi a uma entrevista em Lisboa com o coordenador da clínica, que ainda estava em fase de construção na capital angolana, e ficou com o emprego. “Mas o processo foi atrasando”, diz, o que acabou por ser uma mais-valia para Ricardo.
“Nesse espaço de tempo, consegui arranjar trabalho em Portugal, comecei com poucos dias e neste momento estou com o horário completo em duas clínicas e acabei por deixar de lado a proposta para emigrar”, explica.
Menos dinheiro, família e amigos por perto
Ricardo confessa que se tivesse decidido deixar o país estaria com um orçamento mais desafogado no fim do mês. “É óbvio que estava muito melhor a nível financeiro. Mas isso não é tudo o que conta, também o lado pessoal conta um bocado nesta escolha”, salienta. “Conta bastante”.
Resolveu ficar, não só porque acabou por encontrar emprego em Portugal, mas também pelos laços familiares e pelas amizades. “A relação com a família e com os amigos também foi muito importante. Nós sabemos que a família está sempre lá mas com os amigos, é diferente, alguns laços acabam por se perder”, acredita Ricardo, referindo ainda que “é difícil dizer se optei por ficar cá mais por uma vertente pessoal ou porque não estava seguro em ir para lá”.
Emigrar é hoje em dia quase uma “obrigação” para os recém-licenciados. “As pessoas estão sem hipóteses”, lamenta Ricardo. “Quem quer evoluir e ter um ordenado digno tem que emigrar, as opções em Portugal são escassas”, reconhece o dentista. “Eu tive uma oportunidade que hoje é muito difícil ter”, completa.
Apesar de ter consciência desta situação, Ricardo defende que os afectos e a ligação com o país contam sempre quando se toma a decisão final. “Na fase inicial, quando se responde aos anúncios e se começa a ir as entrevistas de emprego, ninguém pensa muito nisso. Está tudo com o entusiasmo de ir para fora, pela aventura que vai ser”, descreve.
“Quando chega o momento de ir, aí as coisas são diferentes. Parece que cai a ficha e realmente chega-se a conclusão que a nossa vida vai mudar”, afirma. Para já, a vida de Ricardo não mudou mas a hipótese de emigrar não foi excluída. “Vou tentar sempre cá em Portugal, mas caso não consiga, tento ir para o estrangeiro”. “Tenho muitos colegas de faculdade que já estão lá fora e a medicina dentária é uma das áreas que mais exporta profissionais”, conclui.