"Pago o que for para que Woody Allen venha filmar" no Rio de Janeiro, diz autarca carioca
Romance entre a cidade e o cineasta dura há anos e quer repetir o que já fizeram Roma, Paris, Londres ou Barcelona.
Numa entrevista publicada este domingo, Eduardo Paes é questionado sobre a possibilidade de o realizador de Annie Hall filmar no Rio. “Eu quero muito que ele venha! Já fiz de tudo. Falei com a irmã dele [Letty Aronson], mandei bilhete via [o arquitecto Santiago] Calatrava, que é vizinho dele em Nova Iorque, e pago o que for para que ele venha filmar aqui”, responde o autarca. "O Reage Artista" - um movimento formado por artistas do Rio de Janeiro para debater as políticas culturais públicas - "vai-me matar quando eu der os milhões que o Woody pedir, mas eu pago 100% da produção”.
A cidade está há anos a tentar seduzir o cineasta de Brooklyn. No final de 2009, Letty Aronson e outro produtor, Stephen Tenenbaum, estiveram no Rio a estudar locais de filmagens para Allen, escreveu o Los Angeles Times; na mesma altura, a Folha de São Paulo dizia que os estúdios brasileiros Conspiração tinham oferecido 11,2 milhões de euros a Allen para filmar na cidade da garota de Ipanema, montante ao qual se tinha juntado 1,2 milhões da autarquia e do estado do Rio de Janeiro. Steve Solot, o presidente da Rio Film Commission, que em 2009 passou a representar os esforços da cidade e do estado do Rio de Janeiro para chamar projectos cinematográficos para a região, apresentava-se em 2009 como um corredor a competir com as suas congéneres mundo fora para ter Allen na sua cidade. “Será um postal ilustrado para a cidade e para o estado e um passo em diante para tornar o Rio um verdadeiro destino não só para filmar, mas para os turistas antes do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos.”
O Rio de Janeiro é uma das cidades mais reconhecíveis do mundo, mas não serviu de local de filmagens para muitos filmes internacionais de grande visibilidade – os agentes do sector identificam o crime e a violência na cidade como detractores. Nos últimos anos, foi pano de fundo para excertos de O Incrível Hulk (2008) ou do penúltimo capítulo da saga Crepúsculo (2011), por exemplo, e no passado destacam-se Difamação (1946), de Hitchcock, o James Bond Moonraker (1979) ou o mais recente Os Mercenários (2010).
Ao oferecer pagar a Allen para filmar no Rio, Eduardo Paes reiterou assim uma vontade que cidades como Londres, Barcelona, Paris ou Roma já conseguiram cumprir – o realizador fez Vicky Cristina Barcelona (72 milhões de euros de receita de bilheteira), Para Roma com Amor (54,7 milhões de euros de receita) e Meia-noite em Paris (113 milhões de euros de receita de bilheteira), por exemplo, em moldes semelhantes aos que o autarca carioca agora sugere.
Actualmente, Allen está a filmar no sul de França um projecto ainda sem título e que conta com Emma Stone, Colin Firth e Marcia Gay Harden como protagonistas. “Os europeus começaram a financiar os meus filmes de uma forma muito, muito generosa e fizeram-no sob as minhas regras, o que significa que não interferem comigo de forma alguma, não lêem os meus guiões, não sabem o que vou fazer e só têm fé que eu vou fazer um filme que não envergonhe ninguém”, disse Allen ao diário britânicoTelegraph há um ano. “Começou em Londres em 2004 com Match Point e depois continuou”. Cada uma dessas rodagens, disse ao La Repubblica em 2011, “tem sido como fazer declarações de amor a certos lugares e projectar no ecrã os meus sentimentos pelos lugares que mais contaram na minha vida”.
Nos últimos anos, Allen filmou oito projectos na Europa. O realizador diz-se inspirado pelas cidades que escolhe, mas admitiu em 2010, quando promovia Vais Conhecer o Homem dos teus Sonhos, que filmar em Nova Iorque se tornou demasiado caro. Os filmes de Allen têm tradicionalmente orçamentos baixos e são tanto mais rentáveis à partida quanto menores forem os seus custos de produção. Muitas destas cidades são dotadas de film commissions, organismos que agilizam licenciamentos e, em alguns casos, isentam as equipas do pagamento de taxas ou fazem a ligação com as autarquias que apoiam o financiamento desses projectos.
Lisboa também já surgiu como candidata a candidata a ser pano de fundo de um filme do realizador que, por mais que filme na Europa, será sempre associado a Nova Iorque, e a Manhattan em particular, cidade onde vive e que filma desde os anos 1960. O realizador já foi confrontado, em Setembro de 2012, com a possibilidade de filmar na capital portuguesa no programa Cinebox, da TVI, ao qual Allen respondeu: "Teriam de me convidar e dizer que avançariam com o dinheiro”. E acrescentou que teria de encontrar “alguma ideia que seja boa para Lisboa."
O grupo no Facebook Woody Allen, queremos ver-te a filmar em Lisboa criado por Bruno Reis em 2012 continua activo, tendo mostrado este fim-de-semana as projecções no Arco da Rua Augusta. Ao Dinheiro Vivo, Reis disse ter usado um expediente similar ao do autarca do Rio de Janeiro – contactou a irmã e produtora de Allen para discutir hipóteses de financiamento. A mesma publicação noticiou em Março que o presidente da Câmara de Lisboa teria feito contactos com Woody Allen para uma rodagem em Lisboa, o que a autarquia negou na altura ao PÚBLICO.
Blue Jasmine, o mais recente filme de Allen, estreia-se em Portugal a 12 de Setembro.